- Valor Econômico
• Partidos do impeachment são favoritos domingo
A cinco dias da eleição, PSDB e PMDB, partidos-chave do impeachment que levou Michel Temer para o Palácio do Planalto, são as siglas com mais chances de vencer na maior parte das capitais brasileiras. Mas nas duas principais cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, é o PRB, um partido de forte viés conservador criado em 2005, que desponta como favorito - já foi assim há quatro anos, na última eleição, mas desta vez as pesquisas indicam que o partido ligado aos evangélicos tem os pés bem firmes em pelo menos uma das duas cidades.
É certo que muita coisa pode e deve mudar até domingo. A campanha municipal de 2016 é atípica por vários motivos. Ela começou, por exemplo, quando terminava o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, um processo que traumatizou o país e deixou sequelas. O tempo destinado à propaganda também foi reduzido, assim como o financiamento aos candidatos limitado às doações das pessoas físicas. Mesmo com a indefinição ainda existente, o primeiro turno já deve servir de parâmetro para aferir se a política nacional teve algum reflexo sobre a disputa municipal ou qual foi o impacto do fim do financiamento privado.
A menos que ocorra uma grande reviravolta nos próximos cinco dias, o maior derrotado das eleições municipais será o PT. O partido elegeu quatro prefeitos de capital em 2012; no domingo, deve vencer apenas em Rio Branco, capital do Acre. Um estudo da Arko Advice, empresa de consultoria política de Brasília, diz que o PT tem chances de chegar ao segundo turno em Porto Alegre e Recife, mas tende a ser derrotado. A sigla enfrenta dificuldades também para renovar seus quadros. "Nas capitais onde o partido pode disputar o segundo turno, seus candidatos são ex-prefeitos", diz a Arko Advice. "E nas cidades onde o partido optou por nomes novos, os petistas têm registrado índices de intenção de votos muito baixos". Nas capitais, o PT deve ser ultrapassado pelo PDT, PSD e Psol.
O enfraquecimento do PT, um partido devastado por uma sequência de escândalos de corrupção, do mensalão e do petrolão, e pelo desastroso governo Dilma, está levando o Psol a ocupar espaço junto ao eleitorado de esquerda nas capitais. O partido lidera as pesquisas em Belém (PA) e Cuiabá (MT), e pode chegar ao segundo turno no Rio de Janeiro (RJ) e em Porto Alegre (RS). Mas apesar do avanço do Psol, a característica do voto nas capitais, segundo a avaliação da consultoria, mostra um enfraquecimento da centro-esquerda e o fortalecimento dos partidos de centro-direita.
Os tucanos são favoritos em Belo Horizonte (MG), Maceió (AL), Manaus (AM) e Teresina (PI). Mas nesta reta final de campanha já vislumbram - com razão - a chance de reconquistar São Paulo. Melhor ainda, tirando a prefeitura das mãos de Lula e Haddad, seus algozes em 2012. A vitória do PSDB em São Paulo significaria também o avanço da ala mais conservadora na disputa interna do partido e um golpe nas pretensões do senador Aécio Neves (MG) de voltar a ser o candidato tucano na sucessão presidencial de 2018. O candidato de Aécio é favorito em Belo Horizonte, mas uma vitória de João Leite, que já disputou outras eleições, não teria a mesma repercussão que terá no PSDB se João Doria ganhar em São Paulo.
O PMDB está bem encaminhado em Boa Vista (RR), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS), e pode se considerar no páreo em Goiânia (GO) e São Paulo. Grande vencedor em 2012, liderado por Eduardo Campos, morto em 2014, o PSB deve levar menos prefeitos nas capitais que na última eleição municipal - foi o partido que mais elegeu (5) prefeitos. A tendência agora é manter seu principal reduto, o Recife (PE), e ganhar em Palmas (TO), onde disputa a reeleição, e é franco atirador em Goiânia.
Numa eleição atomizada, uma miríade de partidos deve compor o quadro eleitoral das capitais. De nove a 17 partidos têm chances de eleger um prefeito de capital, no próximo domingo, do total de 35 siglas habilitadas para disputar a eleição. Em 2012 foram 29 e 11 se fizeram representar nas capitais - a fragmentação não chega a ser um fenômeno absolutamente novo, mas se ampliou em relação a 2012 e tende a se acentuar, se nada for feito para impedir a proliferação de partidos.
Com todas as suas tipicidades, a eleição de 2016 será um divisor de águas. A rigor, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) também liderou as corridas para as duas principais cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, nas eleições de 2012. A diferença pode estar no novo jogo do financiamento eleitoral. Para se desconstruir um candidato é preciso tempo e dinheiro, o que anda meio em falta. Celso Russomanno ainda pode cair fora do segundo turno em São Paulo, pois enfrenta a conjugação de dois candidatos que crescem nas pesquisas e têm mais dinheiro e tempo de propaganda eleitoral.
No Rio, o candidato Marcelo Crivella parece consolidado no segundo turno e é favorito para vencer a eleição. Não foi ameaçado na campanha, embora enfrente um candidato com muito dinheiro e tempo de TV. Seus adversários estão muito pulverizados. Há quatro candidatos com 7%, 9% e 10%, segundo o Datafolha, disputando um lugar no segundo turno - Marcelo Freixo (Psol), Jandira Feghali (PCdoB), Pedro Paulo (PMDB) e Flávio Bolsonaro (PSC).
Dois fatores podem definir quem passa para a próxima etapa: o peso da máquina e o voto útil. A máquina do Rio, em tese, deveria beneficiar o candidato de Eduardo Paes, mas ela tem três filhotes na corrida: Pedro Paulo (PMDB), o candidato oficial, Osório (PSDB) e Índio da Costa (DEM). À esquerda, a disputa colocou em campos opostos quem esteve junto contra o impeachment: Lula e Dilma apoiam Jandira e o compositor Chico Buarque apoia o candidato do Psol, Marcelo Freixo. Difícil definir qual seria o voto útil.
A eventual passagem de Jandira para o segundo turno será um sinal de que a campanha, no Rio, foi nacionalizada. A candidata deixou de lado os temas municipais e apostou firme no "Fora Temer". Mas pode também levar a rejeição de Lula e Dilma.
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