terça-feira, 27 de setembro de 2016

Palocci tinha conta corrente de propinas com a Odebrecht, diz Omertà

• Investigação da força-tarefa da Lava Jato aponta que, entre 2008 e o final de 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo o ex-ministro

Julia Affonso, Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pace afirmou nesta segunda-feira, 26, que o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) e o PT tinham uma conta corrente de propinas com a Odebrecht. Palocci foi preso temporariamente por 5 dias na Operação Omertà, 35ª fase da Lava Jato.

A força-tarefa investiga as relações do ex-ministro com a maior empreiteira do País.

A Polícia Federal liga Palocci à planilha ‘italiano’, do Setor de Operações Estruturadas, a área secreta de propinas da empreiteira. Segundo a Omertà, ‘italiano’ é Palocci.

“Em 2008, é o primeiro lançamento da planilha italiano. Essa planilha consiste numa conta corrente que Antonio Palocci Filho, que representava o grupo político do PT, tinha com a empresa Odebrecht. Os primeiros pagamentos são de 2008, estão atrelado a eleições municipais e, provavelmente, à eleição que João Santana de Cerqueira Filho também trabalhou em El Salvador”, afirmou o delegado.

João Santana foi o marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014). Ele e a mulher, Mônica Moura, foram presos na Lava Jato. À Justiça, confessaram ter recebido valores da campanha de Dilma por meio de caixa 2 em contas no exterior.

A PF destacou mensagem trocada por um executivo da Odebrecht e Maria Lúcia Tavares, do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira.

“A planilha que nós tínhamos e foi encontrada na 23ª fase, no e-mail trocado entre Miggliaccio e Maria Lúcia Tavares, a planilha estava atualizada até 2012. No celular de Marcelo (Odebrecht), nós encontramos uma versão que mostra uma atualização dessa conta que a Odebrecht tinha com o PT, 25 de novembro de 2013.”

A PF sustenta que a rede de repasses ilícitos não contemplava exclusivamente períodos eleitorais.

“Os pagamentos não aconteciam somente em anos de campanhas eleitorais. Em 2009, 2011 e 2013, os pagamentos eram uma verdadeira conta corrente que a Odebrecht tinha com o PT, devido às interferências, neste caso, principalmente de Antonio Palocci Filho, em favor da empreiteira nos mais diversos projetos, contratos, obras que a empresa desejava obter alguma espécie de vantagem.”

As investigações sobre o ex-ministro, na Lava Jato, apontam que Palocci tratava com a empreiteira Odebrecht assuntos relacionados a quatro esferas da administração pública federal: a) a obtenção de contratos com a Petrobrás relativamente a sondas do pré-sal; b) a Medida Provisória destinada a conceder benefícios tributários ao grupo econômico Odebrecht (MP 460/2009) c) negócios envolvendo programa de desenvolvimento de submarino nuclear – PROSUB; d) e financiamento do BNDES para obras a serem realizadas em Angola.

A força-tarefa da Lava Jato sustenta que a atuação de Palocci e de seu ex-chefe de gabinete Branislav Kontic ocorreu mediante o recebimento de propinas pagas pela Odebrecht, dentro de uma espécie de ‘caixa geral’ de recursos ilícitos que se estabeleceu entre a Odebrecht e o PT.

Conforme planilha apreendida durante a operação, identificou-se que entre 2008 e o final de 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e a seus agentes, incluindo Palocci.

“Remanesceu, ainda, em outubro de 2013, um saldo de propina de R$ 70 milhões, valores estes que eram destinados também ao ex-ministro para que ele os gerisse no interesse do Partido dos Trabalhadores.”

O juiz federal Sérgio Moro decretou o bloqueio de R$ 128 milhões do ex-ministro Antônio Palocci Filho e de outros alvos da Operação Omertà. O sequestro atinge a empresa de Palocci, a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, e seus homens de confiança, também capturados na Omertà, Branislav Kontic e Juscelino Antônio Dourado, além da J&F Assessoria Ltda.

O valor corresponde à propina supostamente paga a Palocci pela maior empreiteira do País, a Odebrecht. Parte do dinheiro foi destinado ao PT, segundo os investigadores da Omertà.

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