A queda do número de vagas de emprego formal fechadas em agosto alimentou a expectativa de recuperação do mercado de trabalho. O saldo líquido entre admissões e desligamentos foi de 33,9 mil vagas perdidas em agosto, cerca de um terço das 94,7 mil vagas extintas em julho. Foi o resultado menos ruim contabilizado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em um ano e meio.
A melhoria foi patrocinada pela indústria de transformação que vem mostrando reação e, pela primeira vez desde fevereiro de 2015, abriu mais postos do que fechou - 6,3 mil vagas -, com destaque para a expansão na produção de alimentos, calçados, têxteis e produtos químicos. No comércio houve módica geração de empregos, que não chegou a 1 mil postos. Mas continuaram as perdas de vagas principalmente na construção civil, agricultura e serviços.
Com o resultado de agosto, o Caged acumula o corte de 651,3 mil vagas no ano e de 1,656 milhão em 12 meses. Os setores mais afetados são os do comércio, com 41% dos postos fechados, ou 267,3 mil, da construção, com 25%; e serviços, com mais 25%. Em quarto lugar vem a indústria, com 22,4%. Houve geração de emprego na agricultura (82,1 mil) e administração pública (18,6 mil).
Apesar da incipiente melhora em alguns setores, não se espera um saldo positivo de vagas no Caged até o fim deste ano. Como disse o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Fernando de Hollanda Barbosa Filho, o mercado de trabalho ainda não está melhorando, mas apenas "despiorando".
Dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mostram que a desaceleração da economia já vinha tendo impacto no mercado de trabalho desde 2014, quando a criação de vagas caiu praticamente pela metade, para 400 mil. Mas a crise chegou mesmo em 2015, que ficará marcado como o ano de maior corte de vagas de trabalho desde 1985, com a perda de 1,51 milhão de postos de trabalho. As estimativas sinalizam que o ano vai contabilizar pouco mais de 1 milhão de postos de trabalho fechados, quase o dobro do acumulado até agora. Pode parecer muito. Sazonalmente, porém, as demissões aumentam em dezembro. Apenas em dezembro de 2015 foram perdidos 596,2 mil postos de trabalho.
A recuperação econômica apoiada principalmente na indústria, em especial em segmentos mais ativos no comércio exterior, abre mais espaço para a contratação de trabalhadores qualificados. Em contrapartida, encontrar emprego está mais difícil para os menos qualificados, dado o maior volume de fechamento de vagas na construção, no comércio e nos serviços. Se em 2015 o desemprego cresceu com a notável redução das contratações, neste ano chama a atenção o aumento dos desligamentos.
O que ajuda a evitar uma explosão maior do desemprego é o aumento da informalidade e do trabalho por conta própria. Levantamento do Bradesco mostra que 35% da população ocupada vivem do emprego informal e do trabalho por conta própria em comparação com 38,9% do trabalho formal. Trabalham no setor público 12,4%; na atividade doméstica, 6,6%; são empregadores 4,1%; e auxiliam as famílias, 2,9%. Como o rendimento do trabalhado informal é 36,5% menor do que o do formal, há impacto na Previdência e no consumo.
Ainda assim, os dados da Pnad Contínua indicam que o desemprego aumentou 0,25 ponto percentual por mês nos últimos 12 meses e chegou a 11,6% da população ativa em julho, o equivalente a cerca de 12 milhões de desempregados.
Os sinais de estabilização da atividade econômica, com a melhora da confiança e indicadores positivos em alguns setores, especialmente na indústria, alimentam a expectativa de retomada das contratações de empregados. No entanto, é certo que o mercado de trabalho reage de forma defasada à atividade econômica. Assim como demorou a refletir a queda da produção também vai levar algum tempo para mostrar a recuperação. Embora um mês ou outro possa apresentar números melhores, a previsão continua sendo de que o corte de vagas chegará a 1 milhão neste ano para ficar positivo somente em 2017. A taxa de desemprego deve superar os 12% no fim deste ano e manter esse patamar no próximo. Outra aposta certeira é a continuidade da desaceleração dos ganhos salariais nominais, que afeta negativamente o consumo das famílias, o crédito e a Previdência
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