Este foi sem dúvida um ano atípico. Normalmente estará certo quem afirmar, mesmo sem base para isso, que os deputados federais e senadores trabalharam pouco. Não neste 2016, contudo.
Verdade que, ao final de dezembro, terão desfrutado quase dois meses de férias a que têm direito nos termos da Constituição, além de inúmeros feriados que não hesitam em prolongar. O Dia de Finados, por exemplo, encravado numa quarta-feira, terminou emendado para a frente e para trás —e o Congresso parou por toda a semana.
Ainda assim, sem que uma coisa justifique a outra, a Câmara e o Senado conheceram uma rotina intensa como poucas em sua história.
Houve, naturalmente, o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Votado pelos deputados no dia 17 de abril, recebido pelos senadores em 11 de maio e finalizado em 31 de agosto, o processo de deposição da petista cobrou dos parlamentares uma dedicação a que decerto não estavam acostumados.
Houve ainda a cassação de dois congressistas, fato pouco usual entre os políticos brasileiros —não por escassear o desvio de conduta, mas por sobejar o corporativismo.
Em maio, Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) tornou-se o terceiro senador a perder o cargo pelo voto de seus colegas. Em setembro, o ex-mandachuva Eduardo Cunha (PMDB-RJ) engrossou a lista um tanto mais extensa de deputados cassados desde a redemocratização.
Os parlamentares, como se sabe, não restringiram sua atuação a esses episódios. Também debateram e aprovaram diversas iniciativas necessárias para o país, entre as quais se destaca a emenda à Constituição que estabelece um teto para o aumento das despesas federais, grosso modo limitando-o à inflação do ano anterior.
Além disso, mudaram para melhor as regras de exploração do pré-sal, sacramentaram a Lei de Responsabilidade das Estatais e avançaram na reforma do ensino médio, para ficar em apenas três casos.
Nada disso, porém, evitou que o Congresso conhecesse a pior avaliação da série histórica de pesquisas feitas pelo Datafolha. Segundo o instituto, 58% dos brasileiros consideram ruim ou péssimo o trabalho dos parlamentares. Antes disso, o índice mais alto era de 56%, registrado em 1993, à época do escândalo dos anões do Orçamento.
Passados 23 anos, fatos ainda mais graves suscitam a desaprovação recorde. São as teias de corrupção descortinadas pela Lava Jato, que sugerem um percentual assombroso de deputados e senadores acostumados a alugar seus mandatos para empresas privadas, que pagam os serviços com dinheiro roubado dos cofres públicos.
Que os brasileiros não se enganem: os políticos farão de tudo, em 2017, para livrar a própria cara. Que os políticos não se enganem: a sociedade estará de olho.
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