- O Globo
Não são boas as notícias ambientais. O desmatamento aumentou fortemente nos últimos dois anos e nada sugere que isso vá mudar porque o governo Temer acaba de dar um péssimo sinal ao reduzir o tamanho de uma área de proteção, a Floresta de Jamanxin, no Pará. O governo cancelou um leilão de energia alternativa, mesmo com 100 interessados na disputa que poderiam investir R$ 8 bilhões.
As diversas crises andam sugando a atenção do Brasil, a tal ponto que tem havido pouco espaço para se noticiar, debater e refletir os riscos ambientais e climáticos que estão surgindo. Só nas últimas semanas houve esses dois. Pela primeira vez desde 2009 não haverá um leilão em que produtores e eventuais compradores de energia limpa se encontram.
— O governo deu uma justificativa velha para desmarcar o leilão. Disse que a recessão diminuiu o consumo de energia. A questão é que era um leilão de reserva, feito para substituir energia termelétrica, mais suja e mais cara — disse Élbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica.
Sem o investimento nessa reserva limpa, o país usará, quando precisar, a energia fóssil. Élbia diz que o governo desrespeitou o setor:
— O governo publicou a portaria e o setor se preparou para o leilão. Estávamos com mais de 100 investidores estrangeiros no país para o leilão e três dias antes o governo cancelou. A demanda poderia chegar a 1 GW de potência instalada. Isso renderia R$ 8 bilhões de investimento e cerca de 15 mil empregos em toda a cadeia produtiva. A economia em emissões seria de 2 milhões de toneladas de CO2.
Outra má notícia foi que no último dia 19 o governo reduziu a área de uma floresta nacional, exposta e vulnerável à grilagem, beneficiando grileiros que invadiram terra protegida. Quando o Estado cede nesse tipo de embate, é um péssimo sinal porque incentiva outras invasões na mesma área.
O desmatamento se alimenta de sinais de fraqueza ou de cumplicidade do Estado. Quando o governo reduz os recursos para fiscalização e controle, como fez o governo Dilma, e dá sinais em seguida de que vai anistiar quem grila, confirma a ideia de que o crime compensa. A mesma Jamanxin já havia sofrido perda de tamanho na administração passada, mas nada se compara ao que o governo Temer fez: reduziu por medida provisória em 43% o território da Floresta Nacional, aceitando a presença de produtores que mantêm na área 110 mil cabeças de gado. Alegam que já estavam lá quando a Floresta Nacional foi criada, mas quem acompanha o desmatamento na Amazônia sabe que não é verdade. Eles ocuparam porque o governo Dilma vinha dando sinais de fraqueza. Agora o governo Temer confirmou a impressão. Em junho, um policial foi morto durante uma operação do Ibama no local. A resposta, em vez de ser mais fiscalização e controle, foi a redução da área protegida.
O Pará foi o estado onde houve mais aumento do desmatamento em 2015, quando na Amazônia como um todo a destruição da floresta subiu 24%. Em 2016, os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ainda provisórios, mostram uma elevação de 29%. Em 2012, o desmatamento ilegal foi de 4,6 mil km2. Este ano, o dado provisório é de quase 8 mil km2. E o mais espantoso é isso ocorrer em plena recessão, quando normalmente tudo reflui, inclusive a derrubada ilegal de madeira, como aconteceu em 2009. Os sinais que o governo Dilma deu e Temer tem dado são tão eloquentes que mesmo num ambiente em que todas as taxas econômicas são de queda, as de destruição da floresta são cada vez mais altas.
A solitária boa notícia foi a mudança da política do BNDES, anunciada pela nova administração, de não financiar usina a carvão e a óleo combustível e subsidiar a produção de energia solar. Sobre as usinas do Rio Tapajós, o governo dá sinais de que vai recuar da decisão de suspendê-las. O presidente Temer falou que uma das conquistas do seu governo, na área ambiental, foi oficializar na ONU os compromissos do Acordo de Paris. Alguém precisa dizer a ele que para cumprir o que prometeu o Brasil tem que reduzir as emissões e isso se faz com combate ao desmatamento e estímulo à energia limpa. Seu governo está caminhando no sentido oposto. O nome disso é retrocesso.
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