Um quadro bastante negativo emergiu da Pesquisa de Inovação (Pintec) que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar. Em um período em que a economia crescia ainda que a uma taxa modesta, de 2011 a 2014, o número de empresas que investiu em inovação estagnou em 36% das pesquisadas, em comparação com 35,7% da pesquisa que cobre o triênio anterior, de 2009 a 2011. O total de R$ 81,5 bilhões investido no desenvolvimento de novos processos e produtos, equivalente a 2,54% da receita líquida total de vendas das empresas, diminuiu ligeiramente frente aos 2,56% da pesquisa anterior. O resultado sugere que o quadro deve ter piorado nos anos mais recentes, quando a economia entrou em recessão; e está em linha com a queda geral do investimento, de 20,6% em 2011 para 19,9% em 2014 e para 18,2% em 2015.
A indústria, que representa 87% das empresas analisadas pela Pintec e já vinha encolhendo antes das demais atividades, teve papel preponderante no dado final. O investimento em inovação das indústrias foi de 2,12% da receita líquida total de vendas, inferior aos 2,37% do triênio anterior, e o menor patamar já registrado desde o início da pesquisa, em 2000. Além disso, as indústrias investiram predominantemente em novos processos para a empresa, o que pode ser conseguido com a compra de uma máquina ou de um equipamento, e menos no desenvolvimento de um novo produto. Entre as indústrias que investiram em inovação em 2014, as que adotaram novos processos representam o dobro das que conseguiram lançar um novo produto. Do total de gastos feitos pelas empresas inovadoras, R$ 24,7 bilhões foram para atividades internas de pesquisa e desenvolvimento (P&D), o equivalente a 0,77% da receita líquida do ano.
O resultado do investimento em inovação só não foi pior em consequência do esforço do setor de serviços, cujas empresas dedicaram 7,81% de suas receitas para o desenvolvimento de produtos, frente a 4,96% em 2011. Dentro desse setor, destaca-se o segmento de telecomunicações, que acelerou os investimentos para a implementação das tecnologias de telefonia 3G e 4G.
Fatores macroeconômicos como a queda das vendas, desaceleração econômica e a reversão da tendência de apreciação cambial que havia marcado o triênio anterior, barateando o investimento e a compra de equipamentos, e, mais recentemente, a instabilidade política compõem o quadro mais amplo que explica a redução dos investimentos em inovação. Uma conjuntura desfavorável desestimula os gastos em inovação, particularmente em pesquisa e desenvolvimento, que exigem volumes elevados de recursos e apresentam retorno mais incerto e a longo prazo.
As empresas têm uma longa lista de motivos mais objetivos para a redução dos gastos em inovação. Um dos principais é o custo elevado para inovar, apontado por 86% das indústrias pesquisadas pelo IBGE, que já ocupou o primeiro lugar em pesquisas anteriores, o que tem relação com o nível dos juros e da inflação. Em seguida, com 82,1% das respostas, estão os riscos econômicos excessivos. Na sequência, vêm a escassez de financiamento, com 68,8%; e a falta de pessoal qualificado, com 66,1%.
O resultado só não foi pior porque, segundo 40% das empresas, houve algum apoio do governo, que aumentou em comparação com 34,2% da pesquisa anterior. Foi mencionado como principal mecanismo o financiamento para compra de máquinas e equipamentos, que beneficiou 29,9% das empresas entrevistadas, mais do que as 25,6% favorecidas no triênio anterior. A compra de novas máquinas e equipamentos promove a inovação nos processos de produção, reduz custos e aumenta a sua produtividade. Já os incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento e inovação tecnológica beneficiaram 3,5% das inovadoras, ante 2,7% entre 2009 e 2011. Foi destacado pela primeira vez como incentivo por 2% das empresas inovadoras as compras de produtos inovadores feitas por parte do setor público.
Com a piora do quadro econômico e fiscal, é de se esperar que o investimento em tecnologia, novos processos e produtos recue mais. As empresas não poderão contar com financiamento farto e nem com garantia das compras do setor público. Países cujas empresas investem mais em inovação, como a Alemanha com 66,9%; a Irlanda, com 58,7%: e a Itália, com 56,1%, dificilmente contam com uma rede especial do governo.
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