A julgar pelos prognósticos mais recentes, há chance razoável de que o crescimento mundial no ano que vem seja superior ao de 2016 —3,3% contra 2,9%, segundo última projeção da OCDE (organismo que reúne países de maior renda).
Tal perspectiva não deixa de ser uma surpresa, tendo em vista os vários acontecimentos políticos tidos como negativos para a confiança global. O referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump para a Presidência dos EUA são dois desses eventos.
Outros se seguirão, com igual potencial de balançar o equilíbrio estabelecido em regiões importantes. Em 2017, França e Alemanha, por exemplo, irão às urnas. São reais as chances de a extrema-direita, com plataforma antieuropeia, obter êxito em solo francês.
O quadro de incertezas políticas, porém, até aqui não causou reviravolta na prática. Nos EUA, a criação de empregos continua sólida, a desocupação já chega a níveis normais e começam a aparecer evidências de aceleração no crescimento dos salários.
Nas últimas semanas, os mercados preferiram olhar para a agenda interna de Trump, que prevê cortes de impostos e aumento dos investimentos em infraestrutura, resultando em Bolsas de Valores em alta.
Nesse contexto, o Fed (banco central americano) subiu os juros em 0,25% na semana passada. Mais importante, mostrou confiança na economia ao revisar para cima —o que não ocorria há dois anos— as altas projetadas em prazos mais longos, que levariam a taxa para 3% até 2019.
Na Europa, o padrão é o mesmo, com crescimento acima de 1,5%. A China também conseguiu desafiar prognósticos mais pessimistas e manter o PIB em alta de 6,5%. Para completar, os preços das commodities —petróleo, itens agrícolas e minerais metálicos— mostram recuperação, o que ajuda a periferia exportadora, como o Brasil.
Turbulências mais à frente, porém, podem reverter esse cenário. Dado o notório comportamento errático de Trump, é possível que bravatas e radicalismos geopolíticos passem a dominar seu governo, o que tornaria insustentável a visão benevolente a respeito da agenda econômica doméstica. Se o crescimento americano fraquejar, tais riscos seriam reforçados.
O mundo entra em 2017 com a economia razoavelmente organizada, mas com incertezas políticas em alta. O otimismo atual quanto ao cenário externo, de certa forma surpreendente, pode ser efêmero.
Enquanto o quadro não muda, o Brasil precisa acelerar reformas capazes de arrumar as contas públicas e de criar condições para o crescimento. Será patético se o país se limitar a torcer pela manutenção do clima internacional favorável.
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