A inflação ficará em 6,49% neste ano, abaixo do chamado teto da meta, se estiver certa a nova projeção do mercado financeiro, divulgada ontem. A estimativa quase bate na trave. Se o número final for um pouco mais feio e superar 6,5%, o presidente do Banco Central (BC) terá de explicar ao ministro da Fazenda, em carta, por que foi ultrapassado o limite de tolerância. Mas essa formalidade, embora incômoda, é o detalhe menos importante. O recuo projetado da inflação de 10,67% em 2015 para algo muito próximo de 6,5% em 2016 é um dado inegavelmente positivo. É uma consequência tanto da recessão, com 12 milhões de desempregados, quanto do aperto monetário mantido por longo tempo. Mesmo com dois cortes a partir de outubro, os juros básicos ainda estão em 13,75% ao ano.
A taxa real, descontada a inflação prevista para os próximos meses, continua sendo a mais alta do mundo. E essa é a básica. As de mercado permanecem elevadíssimas por qualquer critério. Dificilmente chegarão a patamares civilizados em qualquer prazo previsível, mesmo com as prometidas providências oficiais para tornar menos escorchante o custo do crédito. Mas haverá melhoras, embora longe de satisfatórias, se o Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, continuar podando sua taxa nos próximos meses.
Isso dependerá tanto da trajetória da inflação oficial quanto da evolução dos ajustes econômicos. Os passos iniciais para a recuperação das contas públicas foram dados, com a aprovação de um teto para o gasto federal e do orçamento para 2017 com previsão de um déficit primário menor que o deste ano. Mas o debate sobre a reforma da Previdência, também muito importante, está no começo e ninguém sabe quanto poderá mudar o projeto oficial durante a tramitação no Congresso.
Por enquanto, o mercado mantém avaliação otimista quanto à evolução dos preços. Durante 19 meses consecutivos, de março de 2015 a novembro de 2016, a inflação acumulada em 12 meses foi superior a 8%. Caiu para 7,87% em outubro e 6,99% em novembro. Neste ano, as projeções para 2016 foram superiores a 7% até 22 de abril, voltaram a 7% em 6 de maio e permaneceram acima desse limite até 21 de outubro, quando houve um recuo para 6,89%. Mas o teto de 6,5% só foi furado para baixo em 16 de dezembro, quando a mediana das projeções coletadas na pesquisa Focus, do BC, chegou a 6,49%. Essa taxa é quase 40% menor que as contabilizadas para dezembro do ano passado (10,67%) e janeiro deste ano (10,71%). A taxa de 12 meses ficou acima de 10% por quatro meses, de novembro a fevereiro.
A combinação de inflação muito alta e resistente com recessão e juros elevados foi uma peculiaridade da economia brasileira nos últimos dois anos. A explicação dessa aparente anomalia deve envolver vários fatores. A relação com certeza inclui o enorme desajuste das contas públicas, a permanência de resíduos importantes de indexação na economia nacional, pressões de custos derivadas de vários focos de ineficiência e um componente acidental, a elevação de preços dos alimentos.
Para 2017, o mercado mantém a projeção (mediana) de 4,9% de inflação. De acordo com essa avaliação, a meta de 4,5% só será atingida no ano seguinte. O Copom tem mantido o compromisso de alcançar esse alvo nos próximos 12 meses, mas um cenário mais completo deverá ser conhecido ainda nesta semana, quando sair o novo relatório trimestral de inflação do BC, um amplo exame das condições da economia.
No cenário de mercado as perspectivas de crescimento continuam muito ruins. A projeção para este ano é uma retração de 3,48%. Para o próximo ano a perspectiva apontada é de expansão econômica de apenas 0,58%, inferior à última estimativa oficial (1%). Com um nível de atividade ainda tão baixo, a arrecadação de tributos continuará muito fraca e o ajuste das contas públicas dependerá dramaticamente do corte de gastos. O apoio parlamentar aos ajustes poderá estimular a recuperação da confiança e dos negócios. O ajuste vai exigir muito mais que competência econômica.
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