• Vice-governador de São Paulo e presidente do PSB no estado, Márcio França diz que recondução de Aécio ao comando do PSDB foi um truque e que isso não aconteceria em seu partido
Tiago Dantas - O Globo
SÃO PAULO-
• O sr. acha que a recondução do senador Aécio Neves à presidência do PSDB atrapalha os planos do governador Geraldo Alckmin nas eleições de 2018?
Se o PSDB quer ganhar a Presidência da República, o candidato tem que ser o Alckmin. Isso vai ser bom para o partido deles e vai ser bom para o Brasil. Agora, imagino que se não escolherem o Alckmin, não contarão com nosso apoio — do PSB e de outros partidos do nosso bloco, que tem PV, PPS, PHS, PROS. Se eles quiserem escolher outro nome, e também é direito deles, aí cada partido vai seguir seu caminho.
• Que caminho o PSB seguiria?
No dia em que Eduardo Campos morreu, ficamos sem um líder nacional. Não temos no partido, hoje, ninguém capaz de disputar com chances de ganhar a Presidência da República. Pode ser até que surja um nome, mas hoje não há. Ao não ter um candidato de outro partido com quem tenhamos afinidade, o provável é que o PSB opte por candidatura própria para marcar posição.
• O sr. acha que, caso seja preterido pelo PSDB, Alckmin trocaria de partido para concorrer à Presidência?
É difícil analisar o limite de cada um. Mas que (a recondução do Aécio) foi um truque, isso foi. No meu partido, para fazer uma votação desse tipo, ela tem que estar na pauta do dia, para todo mundo ter tempo de se preparar. E não me parece que foi isso que aconteceu no PSDB.
• Alguns tucanos têm dito que Alckmin foi passivo nas negociações que antecederam à recondução de Aécio...
Muita gente apostou no jeito pacífico de Alckmin na hora de escolher o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo no ano passado e acabou errando. Eles apostaram que o candidato tucano seria outro nome, mas Alckmin fez um movimento interno, na época até meio desacreditado, uma aposta que algumas pessoas acharam que era arriscada. Mas no final saiu vitorioso. Bancou a candidatura de João Doria, que foi eleito no primeiro turno. Eu disse a eles na época: “o candidato de vocês tem que ser o Doria porque ele tem o apoio do Alckmin”. E quem tem voto em São Paulo é o Alckmin. Os outros têm prestígio. O (Alberto) Goldman, o Aloysio (Nunes), o FHC, o (José) Serra...
• O apoio do PSB e outros aliados a uma eventual candidatura de Alckmin está relacionado à sucessão no governo de São Paulo?
A eleição no estado tem tudo a ver com essa lógica nacional. Se o Alckmin for candidato a presidente da República, que é o que nós queremos, é um tipo de lógica. Pode até ter um candidato do PSB, eventualmente.
• O sr. gostaria de ser esse candidato?
O que for melhor para o Alckmin, eu farei. Zero chance de fazer coisa qualquer que conflite com o interesse dele. Tenho 52 anos, ainda tenho muitas eleições pela frente. Devo essa projeção pelo convite que recebi dele para ser vice-governador. Eu não tinha um nome pessoal que me levaria a isso. Foi um gesto dele de distinção e de se aproximar de um partido mais à esquerda. O que ele achar melhor, eu farei.
• Nas últimas eleições, venceram candidatos a prefeito que não faziam parte do mundo político. Por estar no quarto mandato à frente do governo de São Paulo, Alckmin não seria o oposto disso?
Mas ele é uma pessoa fora desse mundo da política. Não frequenta nosso ambiente de articulação, de partidos. Sempre foi uma pessoa meio de fora. Ele não frequenta restaurantes, ambientes sofisticados. Não gosta de glamour. É um sujeito simples. E algumas pessoas acham que isso é depreciativo. Eu já acho que é um mérito, porque isso aproxima ele das pessoas mais simples. O cara do interior acha que ele é próximo dele.
• Por que o sr. acredita que Alckmin seria um candidato tão forte?
Ele é o nome mais preparado para a disputa. Os estados brasileiros estão todos com problemas financeiros, enquanto São Paulo está fechando com superavit nos últimos três anos. E o que precisamos no próximo mandato na Presidência da República é de estabilidade: jurídica, financeira e moral. Acho que o Brasil precisa mais do Alckmin do que o Alckmin precisa ser presidente.
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