- O Globo
Em junho de 2011, o empresário Eike Batista admitiu que emprestara o seu jatinho Legacy ao governador Sérgio Cabral para que ele chegasse a um resort da Bahia para a festa de aniversário do seu amigo Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta. Interpelado sobre a eventual impropriedade do mimo, Eike vestiu o manto de homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo, e respondeu:
“Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral, que vem realizando seu trabalho com grande competência e determinação. Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas, trazer a Olimpíada para o Rio (...) e auxiliar a realização de diversos projetos sociais e culturais do estado.”
Batista exercitava a superioridade dos poderosos. Ele sabia a natureza de suas relações com o governador e tinha certeza de que esse segredo jamais seria rompido. Entre 2009 e 2011 o casal Cabral voara 13 vezes nas asas de Eike, mas isso era apenas um aperitivo. Ele deslizara US$ 16,5 milhões para os bolsos de Cabral, sempre “com grande competência e determinação.”
A sabedoria convencional leva as pessoas a acreditar que empresários muito ricos são também muito inteligentes. Os casos de Eike e Marcelo Odebrecht mostram que às vezes a prepotência lhes embaça o raciocínio. Eike não precisava ter assumido um tom principesco ao tratar do empréstimo do avião. Da mesma forma, em 2014, ao ser incriminado na Lava-Jato, Odebrecht deu uma lição de moral à imprensa: “A euforia de se publicar notícias de impacto em período eleitoral extrapolou o razoável. (...) Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denúncia vazia de um criminoso confesso e que é ‘premiado’ por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas.”
Tanto no caso de Eike como no de Odebrecht, as suspeitas de 2011 e 2014 revelaram-se conversas de freiras. A verdade ia muito além. Para glória da Viúva, Marcelo Odebrecht e seus 77 executivos tornaram-se “criminosos confessos.” Eike irá pelo mesmo caminho.
‘La La Land’ cura qualquer mau humor
Por mais algumas semanas funcionarão pelo mundo afora salas de distribuição de bom humor. Seja qual for a apurrinhação que azara a vida do sujeito, ele poderá entrar num cinema e o filme “La La Land” o ajudará a ficar de bem com a vida. (O juiz Moro deveria fazer sessões terapêuticas para os seus hóspedes de Curitiba.)
“La La Land” tem romance, poesia e a mágica da máquina de moer gente de Hollywood. Tudo isso e mais dois grandes atores: Ryan Gosling (um músico à procura de um cantinho para seu talento), Emma Stone (uma jovem atriz sem futuro). Isso e mais os olhos dela, capazes de cantar.
Passarão os anos para que se saiba o nome dos diretores de elenco que humilharam Ryan e Emma. (A cena do diretor que encerrou o teste para combinar um almoço aconteceu com ele, não com ela.)
Quase tudo ali é fantasia e verdade. Ela não trabalhava numa lanchonete, mas numa loja de petiscos para cachorros. A Emma da vida real é muito mais obstinada. Quando tinha 14 anos montou para os pais uma apresentação de PowerPoint intitulada “Projeto Hollywood.” Meses depois a mãe mudou-se com ela para Los Angeles. O resto é o sonho americano no cenário de Hollywood.
Desde 1951, quando o diretor Vittorio De Sica botou os favelados de Milão montados em vassouras e voando felizes sobre a Praça do Duomo, essa mágica dá sorte aos filmes. Em 2002 Steven Spielberg botou o E.T. para voar na caçamba da bicicleta do garoto. Emma e Ryan voam dançando.
Madame Natasha
Madame Natasha teve uma paixão juvenil por Mário Américo, um negro parrudo que acompanhou a seleção brasileira em seis copas do mundo como massagista. Chamavam-no “o homem das mãos de ouro.”
Natasha está inconformada com o aparecimento da palavra “massoterapeuta” para designar massagistas.
Se alguém dissesse a Mário Américo que ele era um “massoterapeuta”, talvez apanhasse.
Gandra é barbada
Depois que foram conhecidas as opiniões do doutor Ives Gandra Filho sobre o papel das mulheres, o divórcio e o casamento de bípedes com quadrupedes, ele se tornou uma barbada para uma cadeira na mais alta Corte da Arábia Saudita.
Peña Nieto
A briga de Donald Trump com o México pode sair cara para quem der simpatia automática ao presidente Enrique Peña Nieto.
O doutor está no vértice de um regime corrupto (não é o único) e já foi apanhado com a mão na massa. Em 2014 uma equipe de jornalistas chefiado por Carmen Aristegui revelou que a mulher de Peña Nieto ganhara de um empreiteiro uma casa cinematográfica, avaliada em US$ 7,5 milhões.
Mexendo seus pauzinhos, poderosos mexicanos desempregaram Aristegui e outros dois colegas. (Ela continuou trabalhando na CNN.)
Em julho de 2016 Peña Nieto pediu desculpas ao povo mexicano pelo “erro” imobiliário. Levou dois anos para perceber.
Trumpistão
No dia da posse de Trump sua secretária de Educação, a milionária Betsy DeVos postou uma mensagem de 18 palavras. Cometeu dois erros de inglês e um de estilo.
Preguiçoso
Um conhecedor das mumunhas da corrupção revelou-se surpreso com os costumes de Sérgio Cabral. Segundo ele, o ex-governador foi um caso de corrupto preguiçoso.
Habitualmente os ladrões pegam a sua parte e vão em frente. Veja-se o caso dos milionários das petrorroubalheiras. Cabral, porém, usava seus doleiros para pagar contas corriqueiras, como IPTU, IPVA ou mesmo conserto de carros. Aí o caso não é apenas de corrupção, mas preguiça mesmo, pois nem isso ele fazia.
Francis faz falta
Paulo Francis morreu em 1997, mas está fazendo uma falta danada. Diversas idiossincrasias de Donald Trump parecem ter saído do almanaque do jornalista.
Ele ficaria feliz ao saber que o presidente americano quer que organizações internacionais como a ONU, Otan e OEA vão às favas.
Lota avisou
Em dezembro de 2012, quando o poderoso Eike Batista queria transformar a Marina da Glória num mafuá anexo ao Hotel Glória, Lota Macedo Soares, a genial criadora do Aterro do Flamengo que se matou em 1967, mandou-lhe um e-mail. Ela dizia ao bilionário que não devia pavonear sua riqueza.
O chinês Huang Guangyu e o russo Mikhail Khodorkovsky foram os mais ricos de seus países e acabaram na cadeia.
Eike achava que Lota era doida, e que suas amizades nos governos municipal, estadual e federal resolveriam qualquer parada.
Saudades
No tempo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa era visto como uma encarnação do Tinhoso. Veio a Lava-Jato e com ela o juiz Sérgio Moro. Muita gente ficou com saudade de Joaquim Barbosa.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, deixará poderosos marqueses do Rio com saudades de Sérgio Moro.
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