- O Estado de S. Paulo
É cedo para concluir que o ambiente da economia está melhorando. Mas já há um punhado de forças que começam a empurrar nessa direção.
A inflação mergulhou e está convergindo para os arredores da meta de 4,5%, ainda neste ano. Depois do que se viu na quarta-feira, não há mais dúvida de que os juros básicos (Selic) também cairão, provavelmente para a altura dos 10% ou 9,25% ao ano. Se isso se confirmar, os juros básicos reais (descontada a inflação), que hoje estão em torno de 7,0% ao ano, deverão cair para alguma coisa em torno de 5,0% ao ano, ainda assim, nível muito elevado.
As contas externas não preocupam e não há corrida ao dólar. Ao contrário, a tendência do câmbio interno continua sendo de enfraquecimento das cotações do dólar. As reservas externas são de US$ 370 bilhões, o equivalente a 32 meses de importação. O investidor estrangeiro continua confiante na política econômica. No ano passado, os Investimentos Diretos no País devem ter ultrapassado a marca dos US$ 70 bilhões e as projeções do Banco Central para este ano são de entrada líquida de US$ 75 bilhões. De dezembro para cá, o CDS do Brasil (Credit Default Swap), espécie de seguro que cobre o risco de calote de um título de cinco anos, caiu 8,15%, de 274 pontos-base para 252,28 pontos, o que mostra recuperação da confiança.
Não há notícia de que a atividade da indústria esteja reagindo. Ao contrário, as indicações ainda são negativas e o Banco Central reconhece que há enorme capacidade ociosa (máquinas e instalações subaproveitadas). O País tem 12,1 milhões de desempregados e outros 2 milhões nem emprego procuram porque estão tomados pelo desalento. O que há são apostas bem assentadas de que o PIB crescerá este ano pelo menos 0,5%, magnitude sujeita a ceticismos da hora.
Mas o agronegócio está bombando. Deve apresentar um aumento de produção de grãos de mais de 15%, de acordo com os estudos do IBGE e da Conab, com a vantagem adicional de que os preços de exportação têm melhorado. Ou seja, a produção agrícola deve injetar recursos novos que devem irrigar a economia a partir do interior.
A administração do governo federal segue aos trancos e a dos Estados enfrenta as calamidades já conhecidas. O presidente Temer ainda se mete em trapalhadas e vacilações inacreditáveis, mas coisas importantes estão andando, porque conta com forte respaldo político no Congresso. A PEC do Teto dos Gastos passou com folga, tanto na Câmara como no Senado, e começam a ser encaminhados projetos de reforma (parciais) das leis trabalhistas e da Previdência Social. As estatais ganharam nova lei de governança e a Petrobrás foi liberada da obrigação de participar de todo projeto do pré-sal como operadora única e com pelo menos 30% do capital.
O nível de incerteza continua muito alto. Sabe-se lá o que Donald Trump pode aprontar quando tiver o botão da bomba – e não só da atômica – à sua disposição. Ganham força pelo mundo movimentos políticos xenófobos e protecionistas. Por aqui, as reformas enfrentarão a ação contrária dos interesses contrariados, principalmente das corporações. A Operação Lava Jato tem ainda muito a revelar e centenas de condenações a sentenciar.
Apesar de tudo, como ensinou Federico Fellini, la nave va.
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