• Inflação em baixa permite redução forte da Selic, perspectivas são animadoras para taxas ainda mais baixas, e isso aumenta otimismo com relação à volta do crescimento
A aceleração no corte dos juros, empreendida pelo Banco Central na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), representa, antes de tudo, um realinhamento da autoridade monetária com a posição que vinha se tornando majoritária, entre economistas e analistas em geral, de que o BC precisava apressar o passo do afrouxamento da política anti-inflacionária. Depois da segunda reunião com o modesto corte de 0,25 ponto percentual, deixando a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, aumentou a crítica de que a autoridade monetária estava muito conservadora diante de um cenário claro de inflação em baixa.
Foram feitas, inclusive, análises de cunho mais político sobre uma hipotética — e desnecessária — preocupação de Ilan Goldfajn de, por meio de um conservadorismo em excesso, marcar a autonomia de sua equipe no BC em relação ao Planalto, muito diferente do que acontecera no relacionamento no governo Dilma entre o Planalto e a instituição, no período de Alexandre Tombini.
Importa é que o corte de 0,75 ponto nos juros, deixando a Selic em 13%, injeta mais otimismo nas expectativas para 2017, que não eram muito animadoras no início de dezembro.
Mas a inflação se manteve ladeira abaixo, o IPCA foi de apenas 0,3% em dezembro — aquém mesmo do 0,36% da última previsão para o ano feita pelos analistas no relatório Focus, do BC —, e houve confiança no Copom para uma redução mais forte. Que poderá se repetir na próxima reunião.
Neste último relatório, fechado na sexta-feira passada, a mediana das apostas do mercado é que a inflação de 2017 será de 4,81%, muito próxima da meta de 4,5%. Talvez ela seja atingida ainda este ano. Os 6,29% da elevação dos preços, no ano passado, já foram importante vitória, porque representaram um corte de aproximadamente quatro pontos percentuais em relação aos 10,67%, de 2015, símbolo da desregrada política fiscal da gestão Dilma Rousseff. Foi, assim, possível encerrar o ano com a inflação abaixo da margem superior de tolerância de 6,5%.
As expectativas de que a economia crescerá no segundo semestre começam a ser antecipadas. Reforçam o otimismo as estimativas de uma safra agrícola das melhores — e que também ajuda a impedir que os alimentos voltem a pressionar o IPCA.
Juros e inflação em baixa são variáveis básicas da equação do crescimento do PIB. Mas não as únicas. É certo que a tendência do cenário é de melhoria, mas ainda existem dúvidas sobre o ajuste fiscal, muito dependente da reforma da Previdência, ainda a ser deliberada pelo Congresso, e da situação dos estados, também cruciais para o equilíbrio das contas da União.
A Lava-Jato e o seu potencial de desestabilização política do governo não podem ser esquecidos, nem deve ser descartada a possibilidade de, a depender da forma com que Donald Trump assuma a Casa Branca, no final da semana que vem, o Copom ter de ajustar seus sensores, caso o banco central americano (Fed) acelere a elevação dos juros. Basta que Trump e seu anunciado protecionismo aticem a inflação americana.
Mas não se trata de problemas que não possam ser esgrimidos pelo BC. Não apenas os juros brasileiros continuam com boa margem para cortes, como a própria distensão do ambiente econômico e dos negócios é um fator a ser levado em conta.
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