Os diretores do Banco Central (BC) decidiram fazer mais uma forcinha para desatolar a economia brasileira e apressar a retomada do crescimento. Esta é a mensagem claramente embutida no corte de juros, bem maior que os anteriores, anunciado na quarta-feira passada. É fácil imaginar uma sequência de fatos positivos. Expectativas melhores levam a mais negócios. Com isso, mais impostos são coletados e o conserto das contas públicas fica menos difícil. Além do mais, juros menores diminuem o custo da dívida pública. Conter o endividamento do Tesouro é um dos objetivos centrais da nova política econômica. Então, tudo encaminhado? É bom ir mais devagar nesse raciocínio.
Se tudo fosse tão simples, por que os membros do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, haviam sido tão moderados até a última quarta-feira? A nova redução da Selic, a taxa básica, pode ser de fato o início de um afrouxamento mais rápido das condições de crédito, mas isso é incerto. As próximas decisões, esta é a promessa, dependerão, como as anteriores, de uma análise do momento e das perspectivas.
Animar o mercado é sem dúvida o principal objetivo da redução de juros de 13,75% para 13%. Cada um dos cortes anteriores, a partir de outubro, havia sido de 0,25 ponto. Esperava-se uma tesourada mais forte, desta vez. A maioria das previsões apontava uma baixa de 0,5 ponto. Mas havia alguma especulação, desde a semana passada, sobre um possível talho de 0,75 ponto. As condições, segundo vários economistas, eram boas para isso. Houve portanto alguma surpresa, mas nenhum motivo de espanto, quando se anunciou a decisão do Copom, no começo da noite de quarta-feira.
Se houve alguma audácia dos membros do comitê, foi sem dúvida muito calculada. Riscos imediatos eram muito menores que as vantagens políticas da aparente ousadia. Depois, uma taxa básica de 13% ainda seria muito alta. Seria cômico, nesta altura, falar de uma política monetária expansionista e permissiva, embora a mensagem passada ao empresariado possa melhorar sua disposição para os negócios.
A decisão do Copom, acompanhada de explicações bem formuladas, deve servir principalmente para realçar, de forma organizada, alguns dos sinais mais animadores deste momento. Para justificar o corte de juros maior que o previsto no mercado, a nota distribuída logo depois da reunião destaca três fatores positivos.
Primeiro, a inflação tem caído mais que o esperado. Segundo, a desinflação é mais disseminada do que vinha sendo até há algum tempo. Não há, no texto, referência a detalhes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado no mesmo dia, de manhã, mas a ligação é clara: a evolução mais favorável dos preços de serviços atenuou uma das preocupações várias vezes mencionadas em documentos do BC. Terceiro, “os passos no encaminhamento e aprovação das reformas fiscais têm sido positivos até o momento”.
Esses dados bastam para mostrar um cenário favorável a uma redução mais rápida dos juros. Se nenhum obstáculo sério atrapalhar, o Copom poderá avançar com firmeza no afrouxamento das condições do crédito. Mas, além das condições favoráveis a esse avanço, há também um estímulo especial e preocupante, mencionado no início da nota: há sinais de atividade econômica abaixo da expectativa. Há o risco, portanto, de uma recuperação mais lenta e gradual que a esperada anteriormente.
Além de boas condições, há uma forte justificativa para o BC cuidar mais do nível de atividade. Daí a escolha de um novo ritmo de afrouxamento monetário. A referência a um “novo ritmo” é literal. Mas logo vem a ressalva: o rumo e a velocidade vão depender de novas avaliações. O quadro externo, por exemplo, dependerá de ações do novo governo dos Estados Unidos e da política de juros do banco central americano. A margem de reação do Copom será tanto maior quanto mais avançar o grande ajuste conduzido pelo Executivo, com maior ou menor apoio no Congresso. O BC é só um dos jogadores. Quando o conjunto falha, seu jogo deve ser mais cauteloso. Sua missão básica ainda é conter a inflação.
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