- Folha de S. Paulo
Lula voltou à estrada. Nesta semana, o ex-presidente reapareceu no alto do palanque em Salvador e Brasília. Discursou contra o governo Temer e repetiu que, "se for necessário", será candidato ao Planaltomais uma vez.
"Nós voltaremos a governar este país", prometeu, no comício da capital baiana. A frase parece ecoar o slogan "Ele voltará", lançado pelos seguidores de Getúlio Vargas antes da campanha eleitoral de 1950.
Os getulistas preparavam o retorno de um presidente que havia sido enxotado do poder ao fim do Estado Novo. Os lulistas sonham com a volta de um presidente que saiu por cima, mas perdeu prestígio com a Lava Jato e a crise que derrubou a sucessora.
Lula retomou um papel que sempre dominou: o de líder da oposição. Tem explorado a impopularidade de Temer para atacar os novos donos do poder. Não é uma tarefa difícil. O governo tropeça nas próprias pernas e continua a anunciar medidas amargas para os brasileiros mais pobres.
O ex-presidente lidera todas as simulações de primeiro turno, mas não sabe se poderá ser candidato. Réu em cinco ações penais, corre o risco de ser barrado pela Lei da Ficha Limpa caso venha a ser condenado em segunda instância até 2018.
Seus adversários não deveriam apostar todas as fichas nisso. Sem comparar os dois personagens, vale lembrar que o deputado Paulo Maluf chegou a ter os votos invalidados em 2014, mas recorreu ao TSE e foi autorizado a tomar posse mais uma vez.
Na dúvida, Lula veste o figurino de presidenciável para rodar o país e tentar sair da defensiva. Pode ser o suficiente para reanimar a militância, mas ele não sairá do lugar pregando apenas para convertidos.
Enquanto não provar que abandonou as práticas que o levaram para o buraco, o PT deve continuar sem perspectivas reais de poder. E é difícil acreditar em mudanças quando figuras como Delúbio Soares, condenado no mensalão, circulam à vontade nos comícios do ex-presidente.
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