“Se preparem, porque, se for necessário, eu serei candidato à Presidência”, proclamou Lula em palanque do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), em Salvador. Só faltou explicar o que significa “se for necessário”, embora pareça óbvio que ele se refere, como sempre fez, às próprias conveniências. De boné e camiseta vermelha, o ex-presidente abusou mais uma vez de seus dotes demagógicos e perseverou na prática antipedagógica de iludir o País com a afirmação dogmática de que o governo existe para gastar o que for necessário, bastando para tanto a vontade política de fazê-lo: “O único jeito desse país voltar a crescer é o Estado investir”, para o que “pode mexer no compulsório, pode aumentar a dívida”. E explicou: “A melhor forma de diminuir a dívida com proporção do PIB é fazer o PIB crescer”. Muito simples, portanto. Devia ter ensinado isso a Dilma Rousseff.
Como os populistas de modo geral, os petistas no poder se revelaram muito bons em gastar, em administrar a abundância. Nos governos de Lula, ainda sob os efeitos de uma política econômica racional herdada do Plano Real e da valorização das matérias-primas no mercado mundial, o lulopetismo chegou ao auge do sucesso no poder, faturando popularidade em cima de programas assistencialistas. Os petistas já não tiveram a mesma sorte quando, com Dilma na Presidência, enfrentaram o desafio de administrar a escassez. Até porque, no embalo dos anos gloriosos de Lula, a pupila do ex-presidente metera na cabeça que tinha chegado a hora de adaptar a política econômica a suas próprias convicções estatistas e implantar uma “nova matriz econômica”. Gastou o que não podia, pedalou, levou a economia à beira da falência e teve o mandato cassado.
Agora, premido pela Lava Jato e visivelmente temeroso do pronunciamento da Justiça, Lula comporta-se como se pudesse fazer o Brasil se esquecer disso tudo e levar o PT de novo a “ganhar as eleições nesse país”. Pior: quer fazer os brasileiros acreditarem que para resolver os problemas que hoje enfrentam basta que ele próprio reassuma o governo para fazer exatamente tudo igual ao que fez antes, como se o Brasil de hoje fosse o mesmo de 13 anos atrás, antes de ser iludido e depois destruído pelo PT.
A estratégica política de Lula – a respeito da qual o PT não assumiu ainda uma posição oficial porque continua lambendo as feridas do impeachment e do desastre das urnas de outubro – está claramente colocada em termos simples, com forte apelo emocional. Resume-se a dois slogans: “Fora Temer” e “Diretas já”. Mas como realizar diretas já se, na improbabilidade de Temer perder o mandato, a Constituição determina que a substituição seja feita por eleição indireta pelo Congresso Nacional?
É aí que Lula “inova”. Lançou em Salvador a ideia de eleições diretas para a Presidência da República em outubro próximo, daqui a 10 meses. Não se deu ao trabalho de explicar como seria possível viabilizar essa proposta absolutamente sem pé nem cabeça. Mas esse detalhe não preocupa Lula, desde que os “movimentos sociais” sob sua influência disponham de palavra de ordem para gritar nas ruas e nos palanques.
Essa seria a perspectiva político-eleitoral de Lula, não fosse ele quem é. Ocorre que o chefão do PT, apesar de ser o “homem mais honesto do Brasil”, é um “perseguido” da Justiça, envolvido em cinco investigações sobre corrupção, três delas no âmbito da Lava Jato. Condenado, tornar-se-á “ficha suja”, inelegível para qualquer cargo público. Essa possibilidade é cada dia mais plausível, a julgar pelo andar da carruagem, isto é, pelas delações dos antigos amigos do peito do ex-presidente.
Lula é um político pragmático. Na verdade, não se ilude com a “campanha eleitoral” que lançou em Salvador na garupa do MST. O objetivo principal de toda essa encenação é reforçar a imagem de um “herói popular” que almeja trocar eventual condenação à prisão em Curitiba pela condição de “mártir” politicamente asilado em algum aconchegante recanto bolivariano.
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