Por Gerald F. Seib | Dow Jones Newswires
É possível que a maré populista tenha alcançado seu auge e esteja perdendo força? É cedo demais para tirar quaisquer conclusões definitivas, e o maior teste ocorrerá no mês que vem, na eleição presidencial da França. Mas nos recentes pleitos realizados na Holanda, Austrália e Alemanha as forças do nacionalismo e do populismo que avançam em todas as democracias do mundo desenvolvido sofreram reveses.
O teste mais recente ocorreu neste fim de semana na Alemanha, onde a União Democrata Cristã (CDU), o partido da premiê Angela Merkel, obteve uma convincente vitória do establishment político no Estado do Sarre, um bom sinal para a líder alemã pouco antes das eleições de setembro. O secretário-geral dos democratas-cristãos, Peter Tauber, disse que os eleitores "optaram pela estabilidade e pela confiabilidade... O CDU é a única força que deixou claro que não operará com os populistas, nem de esquerda nem de direita".
Na Holanda, há duas semanas, o establishment político holandês venceu o ativista anti-islã Geert Wilders. Seu Partido pela Liberdade, que defendeu a suspensão da imigração muçulmana e a retirada do país da União Europeia (UE), não reuniu o número de votos suficiente para fazer frente ao partido do primeiro-ministro Mark Rutte.
Por seu lado, na Austrália, o partido governista do premiê Malcolm Turnbull fez uma jogada de risco, ao unir forças com uma polêmica personagem nacionalista, Pauline Hanson, e seu partido One Nation, e foi rejeitado. Nas eleições regionais da Austrália Ocidental, o Partido anti-imigração de Pauline conquistou menos de 5% dos votos, o que contribuiu para arrastar o governo para a derrota.
Esses resultados são simples prenúncios. Mas, tomados juntos, sugerem a possibilidade de que o acossado establishment político possa estar aprendendo algumas lições e reconquistando sua base de sustentação.
O contrário é que pareceu se verificar no ano passado, quando os eleitores britânicos contestaram a posição de seu premiê e aprovaram a saída da UE, e quando Donald Trump esmagou as expectativas e os dirigentes do establishment de ambos os partidos ao obter sua assombrosa vitória eleitoral nos Estados Unidos.
Esses resultados representaram uma injeção de adrenalina para os nacionalistas econômicos e os movimentos anti-imigração. Essas forças ainda exercem, indubitavelmente, mais influência do que apenas um ano atrás, mas a interrogação está exatamente no tamanho dessa influência. A França desponta atualmente como o maior balão de ensaio. Nesse país, a eleição presidencial que se aproxima parece cada vez mais contrapor a nacionalista de direita Marine Le Pen ao centrista Emmanuel Macron.
O outrora favorito François Fillon está enredado pelo escândalo e perdendo preferências, e Le Pen e Macron estão, essencialmente, empatados nas pesquisas às vésperas do primeiro turno da eleição da França, no dia 23 de abril. A grande incógnita é a força que Le Pen - que abraçou a vitória de Trump como um ponto de inflexão na política ocidental - poderá demonstrar no segundo turno das eleições se disputar de igual para igual com Macron.
Sondagem realizada neste fim de semana na França mostrou Macron bem à frente numa disputa contra Le Pen: 60,5% contra 39,5%. Mas revelou também que uma grande parcela dos eleitores franceses continua indecisa. Esse grande contingente de eleitores que não sabe em quem votará, somado à possibilidade de os franceses se constrangerem em reconhecer para os pesquisadores seu apoio à polêmica Le Pen, leva à conclusão que poderia ser tolo desconsiderar as chances de Le Pen de chegar à Presidência.
Se ela realmente vencer, pressionará pela saída da França da UE para acompanhar a medida britânica, por medidas restritivas à imigração e por um grande estreitamento de laços com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O nacionalismo sairá revitalizado.
Por outro lado, Le Pen pode ter ido um pouco longe demais em abraçar Putin durante visita-surpresa ao Kremlin na sexta-feira, apenas dois dias antes da repressão movida pelo Kremlin, no fim de semana, aos opositores do presidente russo.
As instáveis primeiras semanas do novo governo Trump, juntamente com o arrependimento manifestado, logo após o plebiscito, por alguns eleitores que votaram em favor do Brexit no Reino Unido, podem ter corroído parte do poder de atração dos movimentos populistas em outros países. É provável também, no entanto, que, se o establishment político do Ocidente estiver reconquistando sua base de sustentação, isso se deve em parte ao fato de ter passado a incorporar parte das mensagens nacionalistas de seus opositores.
Rutte da Holanda, por exemplo, adotou sua própria versão de uma linha anti-imigração, embora mais branda do que a defendida por Wilders. Disse aos imigrantes que eles devem se adaptar aos costumes holandeses, e acrescentou: "Se não gostam daqui, podem se retirar".
Na mesma linha, Merkel defendeu suas políticas para refugiados e a imigração, mas no ano passado também pediu desculpas, de certa maneira, aos alemães, pelo ingresso de milhares de refugiados.
Isso, na verdade, é o que fazem partidos inteligentes, bem-sucedidos: não desqualificam o poder catalisador revelado por movimentos políticos novos, e sim absorvem as lições e se adaptam. Os sentimentos revelados pelas vitórias do Brexit e de Trump são reais e não se dissiparão. Pode ser, no entanto, que o establishment esteja agora aprendendo melhor a se adaptar a eles.
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