Três anos depois de iniciada a Lava Jato, não há quem possa negar a profundidade do impacto, antes de tudo positivo, que a operação tem exercido sobre a vida política e até a autoimagem nacional.
Ao mesmo tempo em que se revelam níveis de corrupção assombrosos —mesmo para quem conhece os largos padrões da história brasileira—, vai-se extinguindo a sensação de impunidade crônica associada aos casos de ilicitude cometidos pelos altos estratos sociais, políticos e econômicos do país.
Não é outra a razão do amplo sucesso de opinião pública alcançado pelos protagonistas da investigação. Levando-se em conta o grau de apoio de que desfrutam, seria até de esperar maior nível de descontrole e de desequilíbrio em suas decisões e comportamentos pessoais.
Mesmo assim, há disso exemplos sérios a apontar. Entre os mais notórios, a divulgação de uma conversa particular entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então chefe do Executivo, Dilma Rousseff, já nos estertores da administração petista, um ano atrás.
A medida, tomada depois de esgotado o prazo legal para a gravação sigilosa, rendeu ao juiz Sergio Moro merecida repreensão oriunda do Supremo Tribunal Federal.
Há, ainda, a prática controversa de manter por longos meses os suspeitos de corrupção em regime de prisão cautelar —mesmo quando nem sempre parece claro o risco que os presos, ainda não julgados, representam para a sociedade e para as apurações.
Dificilmente se poderia afastar a hipótese de que, embora legítimo e corriqueiro no sistema penal brasileiro, tal recurso tenha contribuído para facilitar a obtenção de delações premiadas.
Dá margem a inquietação, ademais, a presença constante de Moro e outras autoridades da Lava Jato em eventos públicos calorosos, palestras consagradoras e páginas de apoio nas redes sociais —sendo uma em favor do magistrado alimentada por sua própria mulher.
Trata-se, talvez, de um efeito colateral inevitável do ineditismo e do sucesso, sem dúvida marcante até agora, de toda a operação.
Com um balanço largamente favorável, a Lava Jato está, entretanto, longe de ter garantias contra um desfecho em parte frustrante, agora que as ações se voltam para a elite dirigente nacional.
A vigilância que se impõe sobre os interessados em abafá-la —são muitos, e expeditos, na cena política— também deve voltar-se sobre seus agentes, em cujo próprio benefício cumpre afastar quaisquer suspeitas de abuso, arbítrio, viés partidário ou estrelismo.
É sem heróis, e, espera-se, com cada vez menos vilões, que um país progride institucionalmente; o caminho mal começa.
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