- Globo
O deputado Ricardo Barros é aquele engenheiro que o ministro Eliseu Padilha mencionou como o “notável” do Partido Popular, que substituiu o médico Raul Cutait durante o processo de escolha do ministro da Saúde de Michel Temer. O maior doador de sua campanha eleitoral, com um cheque pessoal de R$ 100 mil, foi o empresário Elon Gomes de Almeida, dono do plano de saúde Aliança.
Barros entrou atirando. Criticou a amplitude do SUS e disse que estimularia a adesão de novos fregueses aos planos de saúde privados. Disse isso numa época em que há grandes planos de saúde quebrados, outros na fila e todos sofrendo um dreno de 1,5 milhão de fregueses, 192 mil só em janeiro passado.
Para resolver o problema dos planos, e só deles, Barros lançou a ideia de um plano popular no qual os clientes fingem que pagam e os maganos fingem que atendem. Um sistema de medicina privada que produz bilionários (em dólar) está precisando de dinheiro e quer buscá-lo no fundo do tacho do andar de baixo. É o populismo alternativo. Com a novidade, será mais fácil aumentar as mensalidades, mais difícil marcar uma consulta e até impossível ter acesso a procedimentos mais complexos. Se os planos caros atendem mal, é fácil imaginar o mafuá que Barros produzirá.
A ideia de Barros pode ter todos os defeitos, menos um: ninguém será obrigado a aderir a essa mágica. Vai quem quer, e quem for, que arroste.
Duas mulheres de 1917
Com o transcurso da Semana Internacional da Mulher no ano do centenário da Revolução Russa de março e do golpe bolchevique de outubro, aqui vão breves lembranças de duas mulheres que tiveram a vida mudada naqueles dias.
Com pernas de zagueiro e uma incrível capacidade de sedução, a bailarina Mathilda Kschessinska tinha 20 anos quanto o futuro czar Nicolau deixou a virgindade na sua cama. O rapaz tinha 24 anos. Ela tornou-se amante de dois grão-duques, teve filho com um deles, mas nunca disse de qual. Acumulou uma fortuna e vivia num palacete em São Petersburgo até que sua casa foi ocupada (e saqueada) pelos bolcheviques. Lenin foi para lá quando chegou à Rússia. A bailarina viu uma estrela do feminismo comunista desfilando no jardim com seu casaco de arminho.
Kschessinska fugiu com suas joias e acabou em Paris, onde montou uma escola de dança. Como aconteceu a quase toda a plutocracia russa, viveu no exílio vendendo joias e esperando o colapso do comunismo. Morreu em 1971, aos 99 anos, na pobreza, ajudada por uns poucos amigos, entre eles a bailarina Margot Fonteyn.
Mathilde estava no lugar certo da escala social, porém ficou do lado errado da revolução. Lidia Pereprygina era uma órfã de 15 anos, de uma pobre família da Sibéria. Estava no lugar errado da escala social mas namorara Iossif, ou Koba, um bolchevique banido que passava semanas sozinho no gelo do Ártico, acompanhado apenas pelo cão. Em 1917 Lidia estava grávida do comunista. Ele tinha 39 anos e boa-pinta. Deixou o vilarejo em março e nunca mais deu notícias, nem para saber se a criança tinha nascido. Só em 1921 Lidia associou Koba ao Stalin que aparecia nos jornais, mas nunca tentou contatá-lo. Mais tarde, contou a verdade ao menino Alexander, advertindo-o de que não devia revelá-la a ninguém.
O filho de Stalin lutou na guerra, foi ferido três vezes, viu-se promovido a major e cuidou de uma cantina numa cidade de mineiros. Lidia morreu em silêncio, mas seu neto Yuri Davidov fez um exame de DNA com amostras de outro descendente de Stalin e encerrou décadas de rumores.
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