- Folha de S. Paulo
Direta já? Em tese, eu concordo. Todo poder, afinal, emana do povo. Além disso, a campanha seria uma oportunidade para a população definir para que lado o país deve caminhar, deixando para trás as intermináveis discussões sobre a legitimidade do presidente.
Só que nada na vida é tão simples. Além do reconhecimento do fato de que é improvável que o Congresso aprove uma emenda que lhe retiraria o poder de escolher sozinho o mandatário, o que me faz pensar duas vezes antes de sair gritando "direta já" são o custo e a oportunidade.
Só a parte operacional de uma eleição nacional sai por cerca de R$ 500 milhões. Se somarmos a isso o ressarcimento às rádios e TVs pelo horário eleitoral e as verbas que seria preciso repassar aos partidos para a campanha, chegamos fácil à casa dos bilhões. Talvez seja muito dinheiro para escolher um presidente que ficará pouco tempo no cargo. Na verdade, dependendo de quanto Michel Temer conseguir procrastinar sua saída, poderão ser poucos meses.
Outro problema é que os partidos não estão prontos para o pleito. Eles têm dificuldades não só para decidir quem poderá ser candidato sem correr o risco de ser preso em plena campanha como também para acertar o discurso que usariam na eleição.
Tome-se o caso do PT. O que o PT diria na campanha? Se o partido seguir se opondo às reformas econômicas e ganhar a Presidência, ou terá enormes dificuldades para governar, ou cometerá um segundo estelionato eleitoral. E, é claro, o PT não é a única sigla que se verá diante da tentação de dizer só o que o eleitor quer ouvir e não o que ele precisa saber.
Um fato triste da democracia é que basta haver um elemento na disputa disposto a usar a cartada populista para afetar o posicionamento dos demais. A pergunta é se o Brasil que tanto clama por honestidade conseguiria, nesse ambiente de polarização e ruína econômica que vivemos, fazer uma campanha honesta.
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