domingo, 28 de maio de 2017

Na base de Temer, a fidelidade está restrita à agenda de reformas

Para base aliada do governo, reformas independem de Temer

Partidos mantêm apoio à pauta do presidente, mas duvidam sobre permanência do peemedebista

Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Fernanda Krakovics e Júnia Gama | O Globo

BRASÍLIA - Ainda engolfado pela crise política que o atingiu em cheio desde que veio à tona a delação da JBS, o presidente Michel Temer viu na última semana sua base aliada no Congresso dar andamento à pauta legislativa, apesar de muita confusão e pedidos de renúncia. O GLOBO procurou os líderes dos partidos da base e o tom geral é claro: em sua maioria, há apoio às pautas do governo, especialmente às reformas trabalhista e da Previdência, mas os mesmos pontuam que isto independe da permanência de Temer no cargo. De forma geral, há cautela em relação à continuidade do governo e ao julgamento da chapa presidencial marcado para o próximo dia 6 de junho, que pode selar o destino de Temer no poder.

Partido de Temer, o PMDB busca uma forma de sobreviver e de ter poder na definição do futuro. Por isso, a bancada da Câmara está decidida a se unir para não ficar sem espaço, seja qual for o cenário. O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), fez uma reunião com ministros e alguns deputados para fechar a estratégia. Baleia tem sido cuidadoso ao falar sobre Temer e tem deixado o papel de tropa de choque aos deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Darcísio Perondi (PMDB-RS). O líder diz que a bancada “confia na palavra do presidente Temer”. Mas todos preferem o discurso de “apoio à agenda do país”, e não à pessoa do presidente.

— A bancada do PMDB está unida e confia na palavra do presidente Michel Temer. Mostramos força e coesão ao aprovar seis medidas provisórias nesta semana. Temos de manter essa tendência. Já há vários setores da sociedade que concordam que só essa base construída pelo Michel pode aprovar as reformas — disse Baleia Rossi.

No PMDB do Senado, a bancada é comandada pelo dissidente Renan Calheiros (PMDBAL), que tem subido progressivamente o tom contra o governo e as reformas. Mas a posição de Renan não é majoritária no partido, o que pode levar, inclusive à sua destituição do cargo. Os partidos da base aliada estão divididos entre os que afirmam que se mantêm fiéis ao governo e aqueles que demonstram hesitação. Enquanto os líderes do DEM e do PP na Câmara são categóricos em defender publicamente a manutenção de Temer no Planalto, os comandantes das bancadas de PSD e PRB titubeiam. No baixo clero, por enquanto, a concepção é tirar vantagem do que o governo Temer ainda pode oferecer. Já o PSDB diz que apoia Temer, mas que o futuro é incerto.

— Hoje apoiamos a continuidade de Temer, amanhã, não sei — diz líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP). Nos bastidores, no entanto, os tucanos têm dito que já é posição majoritária no partido que Temer deve sair. E que só há dúvidas quanto ao momento ideal para que ele deixe a presidência. Afinado com a cúpula do PSDB, o líder do partido no Senado, Paulo Bauer (SC), defende a continuidade das reformas, em qualquer cenário:

— Apoiamos a continuidade das medidas e do programa que Temer estabeleceu. Por isso, o PSDB não tem previsão de deixar o governo.

Embora o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), defenda o desembarque do governo, a bancada ainda aguarda uma reunião da Executiva Nacional do partido para deliberar sobre isso. Já o deputado Efraim Filho (PB), líder do partido na Câmara, diz que apoia o governo, admitindo que essa posição não é fechada dentro da sigla. O deputado pontua que o DEM continua apoiando as reformas propostas pelo governo.

O PP é o aliado mais firme no compromisso com o governo. Ao menos no discurso. O líder do partido na Câmara, Arthur Lira (AL), diz que a bancada está unida na decisão de ficar ao lado de Temer. E que a maioria do partido continua determinada a votar a favor da reforma da Previdência. Lira diz que a delação da JBS abalou não só o presidente, mas outros políticos que foram citados pelos empresários. Para ele, é preciso aguardar o desfecho do julgamento do TSE, que ainda pode ensejar recursos. No Senado, a bancada do PP, com sete senadores, também é uma das poucas a defender a continuidade do governo.

Líder do PSD, o deputado Marcos Montes (MG) riu quando perguntado se a bancada do seu partido apoia a continuidade de Temer, e respondeu ser uma “pergunta difícil”. Ele contou que a bancada ainda não tomou uma decisão, mas há uma “preocupação generalizada” com a situação do governo. Montes disse que se a bancada já estava dividida com relação às reformas, tentar convencer os dissidentes agora ficou ainda mais difícil. O líder do PSD no Senado, Omar Aziz (AM), ressaltou que sua bancada, de cinco senadores, está “muito dividida”, mas ele defende a permanência de Temer.

PRB VÊ “SAIA JUSTA”
O PRB também classificou de “saia justa” a pergunta sobre o apoio da bancada a Temer. O líder na Câmara, Cleber Verde (MA), diz, no entanto, que não é hora de “abandonar o barco”, pois o Brasil começava a esboçar melhoras na área econômica. Ele afirma que é preciso manter o foco nas reformas propostas pelo governo, apesar das denúncias que pesam sobre o presidente. O presidente em exercício do PRB, senador Eduardo Lopes (RJ), afirma que o partido não tem posição oficial sobre estas questões:

— Estamos acompanhando o cenário político com muita precaução.

No PV, Sarney Filho decidiu continuar no cargo de ministro do Meio Ambiente, mas o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), defende a saída imediata de Temer. O senador também é favorável à aprovação da reforma trabalhista e à discussão da reforma da Previdência, independentemente da permanência de Temer.

O líder do PTB no Senado, Armando Monteiro (PE), disse que o bloco do qual faz parte, composto por PR, PSC, PTC e PRB, continua na base, mas que isso dependerá dos desdobramentos políticos e das investigações.

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