Tentativa de mostrar força fracassa e jantar com aliados é cancelado
PSDB e DEM aguardam decisão do Supremo sobre pedido de suspensão do inquérito contra o presidente; FH articula acordo com partidos, inclusive o PT, para o caso de peemedebista deixar o cargo
Diante da possibilidade de baixa adesão, o presidente Temer teve de cancelar o jantar que havia marcado para ontem com líderes aliados de seu governo. Seria uma tentativa de demonstrar força, em meio à grave crise que enfrenta desde a divulgação, na quarta-feira passada, da gravação da conversa com Joesley Batista, dono da JBS. Os convites aos líderes dos partidos começaram a ser feitos na noite de sábado, mas ontem à tarde, quando ficou claro que o quórum seria baixo, os articuladores do Planalto anunciaram que o jantar viraria “reunião informal”. Temer agora aposta tudo no STF, que quarta-feira decidirá se mantém ou não o inquérito aberto para investigá-lo. PSDB e DEM vão esperar até lá para decidir se romperão ou não com o governo. O ex-presidente Fernando Henrique tenta costurar acordo com outros partidos, inclusive o PT, para garantir “sucessão controlada” de Temer. Para ele, o peemedebista não conseguirá concluir seu mandato. Manifestantes foram às ruas em 19 capitais e no Distrito Federal para pedir a saída do presidente.
Sinal de fraqueza - Base resiste a apelo de Temer
Com adesão de apenas 29 parlamentares, presidente cancela jantar para demonstrar força no Congresso
Catarina Alencastro | O Globo
-BRASÍLIA- Um jantar marcado para a noite de ontem com o objetivo de demonstrar que o presidente Michel Temer ainda tem força no Congresso acabou se tornando uma demonstração da fragilidade crescente do governo desde a delação da empresa JBS. Os articuladores políticos do Palácio do Planalto começaram a convidar os líderes dos partidos da base entre a noite de sábado e a manhã de domingo. No início da tarde, no entanto, percebendo que havia risco de baixo quórum, aliados do presidente começaram a anunciar que o jantar se converteria em um encontro “informal”, com a presença dos aliados que estivessem em Brasília. Ao final da noite, cinco líderes de partidos da base e quatro presidentes de legendas aliadas foram ao Palácio da Alvorada.
Uma das principais apostas de aliados do presidente agora é na decisão que o Supremo Tribunal Federal deve tomar nesta quarta-feira, sobre o pedido de suspensão do inquérito que corre contra ele no tribunal. Temer pediu uma perícia no áudio da conversa entre ele e o dono da JBS, Joesley Batista, que detonou a atual crise. Parlamentares acreditam que, caso a corte faça ressalvas explícitas à investigação, Temer se fortalecerá. No entanto, se der carta branca para a apuração, a situação do presidente ficará ainda mais delicada.
Ontem, o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi, tentou explicar a baixa adesão de parlamentares ao encontro promovido pelo governo com justificativa de que muitos parlamentares não conseguiram encontrar voos para chegar a tempo à capital federal.
— Vamos fazer uma reunião com quem estiver aqui. Muitos não conseguiram voo no domingo para Brasília — explicou Baleia Rossi.
No fim da noite, Temer contou com 29 congressistas (23 deputados e seis senadores), inclusive o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os três líderes do governo também foram: Aguinaldo Ribeiro (PPPB), líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), líder do governo no Congresso, e Romero Jucá (PMDBRR), líder do governo no Senado.
O encontro, que era para medir o apoio que Temer ainda tem no Senado e na Câmara, após o escândalo da JBS, acabou ganhando cara de reunião ministerial, com 17 ministros presentes. Segundo um dos que foram ao encontro, Temer aproveitou a reunião para voltar a atacar Joesley Batista:
— O Brasil não pode se sujeitar a um rematado delinquente, que está livre nos Estados Unidos.
Esse foi o tom adotado pelo presidente no pronunciamento que fez no sábado, quando decidiu desqualificar o delator e as provas por ele apresentadas e pedir a suspensão do inquérito aberto no STF para investigá-lo pelos crimes de obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. Em outro momento, ainda segundo um participante do encontro, Temer teria tentado animar os aliados, dizendo que é preciso “resistir”.
— Precisamos resistir, precisamos resistir. Pelo Brasil e pela ordem jurídica. O Brasil vai continuar funcionando.
Na mesa, como ouvintes estavam os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil); Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia); Raul Jungmann (Defesa); Moreira Franco (Secretaria Geral); Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo); Osmar Serraglio (Justiça); Helder Barbalho (Integração Nacional); Fernando Coelho Filho (Minas e Energia); Dyogo Oliveira (Planejamento); Henrique Meirelles (Fazenda); Aloysio Nunes (Relações Exteriores); Ronaldo Nogueira (Trabalho); Bruno Araújo (Cidades) e Mendonça Filho (Educação).
O líder do Solidariedade, Aureo (RJ), foi convidado, mas não compareceu. Segundo ele, o convite foi feito muito em cima da hora. — Não consigo ir, fui convidado muito em cima. É um dia que ninguém está em Brasília, fica difícil juntar muita gente — disse Aureo.
O DEM, embora representado na reunião, adotou tom de cautela. O líder do partido na Câmara, Efraim Filho (PB) disse que a sigla não quer se precipitar em nenhum posicionamento.
— Estamos colhendo informações para avaliar os cenários. O presidente errou em alguns procedimentos? Sem dúvida. Agora, esses erros são grandes o suficiente para que ele saia do poder? Estamos avaliando. O erro foi só receber o delator tarde da noite? Ou há crimes? Não dá para tomarmos uma posição com base em pedaços de informação. Se houve crimes, quem vai dizer isso é o Supremo — disse Efraim.
Um auxiliar do presidente afirmou que é possível que ele queira tentar remarcar a reunião esta semana. Sua maior preocupação é que o Congresso siga trabalhando, aprovando as medidas provisórias que estão prestes a caducar, para que as reformas trabalhista e da Previdência sigam sua tramitação. Caso consiga, o que é pouco provável, conseguirá fôlego para enfrentar a crise. O ataque a Joesley pode ser o ponto de aproximação de Temer com os aliados que cogitam abandonar o governo.
— Eu percebo que há uma insatisfação de parte significativa da sociedade com o fato de Joesley ter delatado, ter praticado crimes e estar solto. Temer está pontuando acertadamente isso — avaliou reservadamente um aliado que participou do encontro
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