Bruno Boghossian, Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Sob ameaça de perder os pilares de sustentação de seu mandato, Michel Temer tentará evitar o esfacelamento da base aliada e reconquistar o apoio de parcela da sociedade civil, fatores que podem selar seu futuro na Presidência da República.
Em uma semana decisiva, o peemedebista tenta conter o desembarque de partidos governistas e recompor seu apoio no Congresso, que será testado nas primeiras votações desde que foi acusado em delação do grupo JBS.
O PSDB e o DEM, dois dos principais partidos da aliança de Temer, convocaram conversas para discutir a crise que enfraqueceu Temer e reavaliar o apoio das siglas ao presidente. Caciques tucanos querem evitar rompimento brusco, mas abriram discussões reservadas sobre cenários de substituição de Temer.
O presidente tenta evitar a debandada e chamou caciques do PSDB ao Palácio da Alvorada neste domingo (21).
A avaliação é de que um rompimento dos tucanos provocaria um efeito cascata que acabaria com a sustentação do governo.
Em telefonema a Temer neste sábado (20), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lembrou de crises que enfrentou durante seus mandatos e defendeu a necessidade de um presidente resistir a momentos de instabilidade.
Impopular e acuado pela delação, o peemedebista reforçou suas articulações para transmitir sinais de que tem apoio. Neste fim de semana, preencheu a agenda com conversas com líderes e ministros. Alguns convites foram feitos às pressas. No domingo pela manhã, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apareceu de bermuda e camiseta na residência de Temer.
O governo tentou ainda convocar um grande jantar. com parlamentares para demonstrar força, mas muitos dos convidados não conseguiram chegar a Brasília. O evento foi substituído por uma reunião informal –e menor.
O Planalto pede coesão da base para enfrentar a oposição no plenário da Câmara, que deve votar medidas provisórias e um projeto de convalidação de incentivos fiscais.
O presidente se esforça, principalmente, para dar sinais de que mantém musculatura política suficiente para fazer avançar a agenda de reformas –uma exigência de empresários e siglas como o PSDB, que condicionam o apoio ao peemedebista ao sucesso desses projetos.
Temer procurou tucanos para articular a retomada das discussões da reforma trabalhista no Senado.
Nos bastidores, dirigentes de PSDB, DEM e até do PMDB apontam que o apoio da base aliada ao presidente será fortemente influenciado pela decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de Temer para suspender o inquérito aberto contra ele a partir da delação da JBS.
Na quarta (24), o plenário da Corte decide se a investigação interrompida até a conclusão da perícia sobre a gravação em que, segundo a Procuradoria-Geral da República, Temer dá aval ao empresário Joesley Batista para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
A incerteza sobre a gravação permitiu ao peemedebista segurar até agora três auxiliares: Bruno Araújo (Cidades), Raul Jungmann (Defesa) e Fernando Coelho (Minas e Energia). O último informou ao presidente, no mesmo dia em que o PSB anunciou apoio ao impeachment, que seguirá no cargo.
Caso o laudo não aponte cortes, avaliam auxiliares de Temer, dificilmente será possível evitar fragmentação da base e o desembarque de ministros do governo.
Temer também deve enfrentar esta semana a apresentação de um pedido de impeachment feito pela Ordem dos Advogados do Brasil.
A equipe presidencial tenta atrair o apoio de outras entidades civis para neutralizar esse episódio, que o Planalto reconhece que fragiliza Temer. No radar, estão a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No fim de semana, o presidente recebeu telefonema de do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, filiado ao PMDB. Temer quer que a Fiesp o defenda publicamente.
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