Embora de caráter apenas simbólico, a consulta pública promovida pela oposição na Venezuela —organizada essencialmente à base de doações e trabalho voluntário— atingiu seu objetivo de mostrar ampla rejeição ao simulacro de Assembleia Constituinte intentado pelo governo de Nicolás Maduro.
Tenham sido 7 milhões (dados dos organizadores) ou 4 milhões (segundo um instituto de pesquisa), o fato é que vasta parcela dos 20 milhões de eleitores do país rechaçou o projeto de Maduro, voltado unicamente a sufocar os adversários do regime.
Em consonância com a manifestação popular, Estados Unidos e União Europeia ameaçaram com sanções se a escolha dos deputados constituintes, que se dará por critérios definidos pelo governo, ocorrer no próximo dia 30. Maduro adiantou que não mudará de ideia.
A Casa Branca não detalhou o que seriam as "ações econômicas fortes e rápidas", mas Washington tem como minar ainda mais a combalida indústria venezuelana do petróleo, sustentáculo da economia do país caribenho.
Os EUA são o principal parceiro comercial da Venezuela e o maior comprador de seu óleo bruto. Uma eventual redução desses negócios teria impacto considerável, uma vez que 95% das receitas de exportação vêm do setor.
Maduro conta, no entanto, com algumas alternativas. Uma seria ampliar as relações com a China, o segundo maior parceiro e um potencial fiador –de 2005 até 2016, o gigante asiático emprestou à Venezuela cerca de US$ 85 bilhões.
O líder chavista também pode recorrer à prática de apontar punições impostas por outros países para se dizer alvo de sabotagem estrangeira, com a qual a oposição estaria em conluio. Exatamente para evitar tal discurso, os países da América do Sul têm se esquivado do confronto direto.
É bem verdade que o Mercosul suspendeu a Venezuela e acionou sua cláusula democrática para exigir normalização institucional. O Brasil e demais vizinhos também já rechaçaram a Constituinte.
O objetivo que deve nortear a cúpula do bloco, cujo encontro de líderes ocorre nesta sexta (21), será defender que a solução para o caos tem de passar pelos próprios venezuelanos, sem ingerência externa. Uma eventual expulsão de Caracas do bloco não pode ser descartada, mas provavelmente teria pouco efeito prático.
Internamente, Maduro sofre com dissidências, que entretanto ainda não parecem profundas a ponto de ameaçá-lo. Tem havido deserções militares, por ora concentradas em patentes mais baixas.
De qualquer forma, pela pressão diplomática ou pelo torniquete econômico —ainda que isso agrave a agonia dos venezuelanos—, está claro que os caminhos para Maduro se prolongar no poder ficarão mais acidentados se ele insistir em sua farsesca Constituinte.
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