quinta-feira, 20 de julho de 2017

O DEM renasce | Merval Pereira

- O Globo

Jurado de extinção por Lula quando ainda era o presidente popular que elegeu o poste Dilma em 2010, ameaçado pela criação do PSD de Gilberto Kassab, que o desidratou, em 2012, o DEM, antigo PFL, teve que trocar de nome para tentar se modernizar. Parecia carta fora do baralho partidário, mero coadjuvante do PSDB, e hoje se torna o peão de uma possível reformulação partidária que uniria inicialmente dissidentes do PSB para, mais adiante, ser o embrião de um novo partido que acolhesse dissidentes de outras legendas, até mesmo do PSD de Kassab.

Tudo por uma máxima da política, a expectativa de poder. A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara, na substituição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), transformou-o na bola da vez da política brasileira, diante da possibilidade real de que o presidente Michel Temer venha a ser retirado da presidência por um processo no Supremo Tribunal Federal.

A disputa pelos dissidentes do PSB foi um passo em falso que o presidente Michel Temer tenta consertar nas últimas horas, com almoços e jantares. Mas muitos outros almoços e jantares antecederam esses, no ano em que se conspirou secretamente pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff em reuniões na casa do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), hoje o principal articulador da entrada de um grupo de 11 deputados do PSB no DEM.

Faziam parte desse grupo os deputados Benito Gama (PTB-BA), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Pauderney Avelino (DEM-AM), Danilo Forte (PSBCE), Carlos Marun (PMDB-MS), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Júlio Lopes (PP-RJ) e Tadeu Alencar (PSB-PE); os então deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Mendonça Filho (DEM-PE) e Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE); e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Nessa conspirata política que foi costurada cuidadosamente, reforçaram-se os laços entre a maioria desses políticos, que estavam, por questões regionais, em partidos que nada tinham a ver com suas tendências ideológicas.


E, mais uma vez, serão as questões regionais que reunirão os dissidentes do PSB mais ligados ao liberalismo econômico ao DEM, que ressurge no quadro político nacional. O senador Agripino Maia, que surgiu como presidente de conciliação quando da dissidência de Kassab, defendia sempre a idéia de que o DEM é o único partido liberal deste país.

Maia vê hoje o partido reforçado em suas convicções, que já classificou de “um partido moderno", em vez de “partido de direita”. A união com o PSB vem de longa data, quando o partido socialista chegou a imaginar uma união com o PSD de Kassab, principalmente pela força em São Paulo, onde hoje Márcio França (PSB)é vice do governador Geraldo Alckmin e poderá assumir o cargo caso o governador saia para disputar a Presidência da República pelo PSDB.

Nesse intervalo, porém, existe a possibilidade de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assuma a Presidência da República, expectativa de poder que já ajuda a incentivar a união com os dissidentes do PSB. A medida dessa possibilidade pode ser entendida por uma pergunta singela: por que os dissidentes não correram para o PMDB, o partido que está no poder?

O Democratas espera assumir o papel de um grande partido liberal, próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia, como meio ambiente, altos impostos, desemprego e insegurança pública. A refundação programática do partido, numa posição que classificam de “centro humanista e reformador", já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC), realizada no Rio, em 2005.

A IDC se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e sociais-democratas no mundo. O que os Democratas defendem é que está na hora de uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado para conseguir também uma redução de impostos.

Essa seria boa plataforma para uma eventual gestão de Rodrigo Maia na Presidência da República, que traria revigorada a possibilidade de aprovar as reformas estruturais que o governo Temer já não tem fôlego político para liderar.

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