Parlamentares esperam votação da reforma trabalhista para convocação de reunião da Executiva Nacional sobre assunto
Julia Lindner, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O movimento pró-desembarque do governo do presidente Michel Temer começou a ganhar força entre os senadores do PSDB. A avaliação de uma ala majoritária da bancada na Casa, formada por pelo menos 6 dos 11 integrantes, é de que a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e a escolha do relator da denúncia contra o presidente na Câmara dos Deputados são fatores que podem intensificar a crise no governo.
Os senadores tucanos que defendem a entrega dos cargos e o descolamento da imagem de Temer, entretanto, querem esperar a votação da reforma trabalhista, na próxima semana, para a convocação de uma reunião da Executiva Nacional sobre o assunto. O objetivo é não criar mais um fator de instabilidade para a aprovação do projeto, que virou uma das principais bandeiras da legenda para apoiar a gestão peemedebista.
Nesta quarta-feira, 5, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), declarou que a posição do partido "é cada vez mais clara" pela saída do governo. "O posicionamento é pelo desembarque, não é de oposição ao governo", avaliou o parlamentar, que defende a manutenção do apoio às reformas econômicas.
Ele disse que o movimento contrário ao governo está ficando evidente "pelos fatos", citando como exemplo a posição dos deputados tucanos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde a denúncia contra Temer por corrupção passiva será analisada. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), estima que 6 dos 7 deputados tucanos que compõem o colegiado devem votar pela aceitação da denúncia.
Tasso conta com o apoio dos senadores Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES), Dalírio Beber (SC), Eduardo Amorim (SE) e Flexa Ribeiro (PA) no grupo pró-desembarque. O senador Antonio Anastasia (MG) já sinalizou que também pode acompanhá-los.
Para Cunha Lima, o relator da denúncia contra Temer por corrupção passiva, Sergio Zveiter (PMDB-RJ), demonstrou que poderá se manifestar pela aceitação do pedido. "A manifestação, sobretudo do relator, do pedido de denúncia na Câmara (contra Temer) será de fundamental importância. Se o relator entender que o processo deve seguir, é porque o presidente perdeu o apoio até do seu partido", avaliou.
Já o presidente afastado do PSDB, Aécio Neves (MG), que retomou na terça-feira, 4, o mandato parlamentar, quer que a legenda mantenha a participação direta no governo, sem entregar os cargos que possui. O líder tucano na Casa, Paulo Bauer (SC) e o senador Ataídes Oliveira (TO) concordam com esse entendimento. Por ter sido ex-ministro de Temer, o senador José Serra (SP) tende a acompanhar esse lado e tem adotado um tom mais moderado sobre a questão.
Segundo Bauer, os senadores pró-governo pedem que o partido "mantenha a coerência" que levou os tucanos a apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Então se eu deixo de ser governo, vou ser o quê? Situação, mas situação entre aspas? Não conheço essa figura", criticou Bauer.
Após 46 dias afastado da presidência da legenda, Aécio não decidiu se continuará ou não no comando do partido. Enquanto o grupo de Tasso quer que haja uma deliberação ainda esta semana, para que ele tenha legitimidade para tomar decisões, Aécio e seus aliados tentam postergar a decisão para depois da votação da denúncia contra Temer na Câmara.
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