- O Estado de S. Paulo
O noticiário tem pintado Rodrigo Maia como um Didi da política, o craque que joga parado. Sem se mexer, o presidente da Câmara estaria armando para suceder Temer – e não só quando este vai ao exterior. Tirando o Botafogo, que um fez tricampeão e o outro imortalizou como apelido odebrechtiano, Didi e Maia têm pouco em comum. Elegância principesca só se aplica a um deles, por certo.
Nem por isso deve-se imaginar que “Botafogo” seja incapaz de um lance em profundidade. Filho de prefeito, primo de senador e genro de felino ministro-governador, Maia acabou de fazer 47 anos e já cumpre o quinto mandato consecutivo como deputado federal. Se não há mais bobo no futebol, imagine no Congresso. Ninguém galga duas vezes a presidência da Câmara por acaso.
Como o antecessor de Maia no cargo provou, tampouco alguém permanece presidente da República por muito tempo sem a colaboração do presidente da Câmara. Quando o titular do Planalto está impopular e acuado, aí então é que o segundo da linha sucessória vira um árbitro de pelada. Pode marcar tantos impedimentos e pênaltis contra o potencial sucedido que inviabiliza seu governo. É só apitar na hora certa.
Imaginava-se que Maia iria praticar a lealdade que prega em relação a Temer por causa de Moreira Franco. O chefe da Secretaria Geral da Presidência da República é padrasto da atual mulher de Maia. Ou seja, o presidente da Câmara é genro do “genro do genro”. Explica-se: antes de ser apelidado de “Gato Angorá” por Brizola, Moreira Franco era conhecido por ser casado com a filha de Amaral Peixoto, que era genro de Getúlio Vargas.
Nessa família, todos os casamentos levam à Presidência da República, mais cedo ou mais tarde.
Mas e a apregoada lealdade? Temer é vítima do próprio sucesso. Ao conseguir tirar aliados como o maleiro Rodrigo Rocha Loures da cadeia e evitar que seu algoz, Rodrigo Janot, emplacasse o sucessor na Procuradoria Geral da República, o presidente fez com que os investigadores apressassem o passo e mudassem de tática. Voltaram os canos fumegantes ao entorno temerário.
A prisão de Geddel Vieira Lima não foi apenas a detenção de mais um ex-ministro, como já havia sido a de Henrique Eduardo Alves. Junto com Temer, Renan, Padilha e Barbalho, Geddel é sócio-fundador da Turma do Pudim – o grupo que substituiu o Clube do Poire no controle do PMDB após a morte de Ulysses Guimarães. Ele foi vice-líder de Temer e seu principal cabo-eleitoral na eleição para presidente da Câmara, mais de duas décadas atrás.
Se Rocha Loures sabe muito sobre Temer desde 2011, o falante Geddel sabe quase tudo sobre o presidente desde 1995, ao menos. No roque da cadeia, Temer ganhou um peão mas perdeu um cavalo.
As torres devem ter ficado ainda mais preocupadas. Eliseu Padilha e Moreira Franco garantem distância da margem oposta do lago Sul de Brasília (para onde Geddel foi levado algemado), por sua inocência, é certo, mas também pelos gabinetes que ocupam no quarto andar do Palácio do Planalto. Calculavam que se manteriam seguros enquanto o presidente estivesse por lá. Hoje, caberia a eles perguntar: qual presidente?
Um que, ao se proteger, não os exponha ainda mais a risco. Temer ou Maia?
De novo, Rodrigo Maia não é Didi, mas joga parado. Por sorte, parado é o estado que mais lhe convém. Temer tem pressa. Não quer repetir o erro de Dilma e esperar a oposição alcançar 372 votos para mandá-lo do Jaburu à praça Conde de Barcelos, ou pior. Quanto menos Maia se move, mais lentamente corre a denúncia contra Temer na Câmara, mais pressão se acumula contra o presidente. Não é uma folha-seca mas pode dar em gol.
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