Catia Seabra | Folha de S. Paulo
RIO - Pai do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-prefeito do Rio e hoje vereador Cesar Maia defende a permanência do presidente Michel Temer no cargo.
"O pior que poderia ter acontecido é o afastamento de Michel Temer", afirma Maia, 72, ao comentar a rejeição do pedido de abertura de processo contra o presidente pelos deputados federais, no último dia 2 de agosto.
"Graças a Deus não ocorreu. Espero que não ocorra", acrescenta, em entrevista à Folha na semana passada.
Em seu apartamento, com vista para a praia de São Conrado, na zona sul, Maia argumenta que hoje não há uma alternativa a Temer para a Presidência. Nem mesmo seu filho, sucessor natural em caso de afastamento do presidente da República.
Ainda segundo o vereador, não existiria a hipótese de Rodrigo, 47, tirar proveito eleitoral à frente deste governo e das medidas em curso.
"As medidas, das quais Rodrigo é protagonista e defensor, têm impacto popular? De jeito nenhum. Ao contrário", argumenta.
Assistindo ao voo de asas deltas diante de sua ampla janela, Maia avalia que os colaboradores de Temer cometem um erro ao desconfiar quando Rodrigo nega o interesse de vestir a faixa presidencial. Segundo seu pai, "Rodrigo não é um jogador".
Defensor das reformas implementadas por Temer, Maia diz que "uma pessoa que tem as características do Rodrigo não pode jogar na imprevisibilidade", na linha do "quem sabe eu me dou bem nessa?''.
Ele diz que não aconselharia o filho a concorrer à Presidência no ano que vem.
TEMER
Dizendo-se totalmente diferente do filho –"sou péssimo na articulação, falo muito"– Maia chega a apostar na inocência de Temer no caso em que um assessor do presidente, o ex-deputado Rodrigo Rocha Lores (PR), é flagrado carregando uma mala de dinheiro.
"Um homem como o Temer, que já foi tudo, vai fazer um cara botar um dinheiro numa mala e levar? Não posso acreditar nisso. Se você dissesse que é um júnior, um corrupto de terceiro escalão"¦ Mas dar uma ordem 'vá a uma churrascaria, pegue o dinheiro e saia correndo'"¦ Ninguém acredita que o Temer esteja envolvido. O [procurador-geral da República Rodrigo] Janot parece que acredita", diz.
Apesar da defesa de Temer, o ex-prefeito não poupa os íntimos colaboradores do presidente. Maia diz que Temer deveria "cuidar bem de sua fotografia" numa alusão aos assessores que aparecem ao seu lado. Entre eles, o ministro Moreira Franco, que vem a ser padrasto da mulher de Rodrigo Maia.
Maia, o pai, rechaça qualquer grau de parentesco com Moreira, dizendo que apenas o cumprimenta em eventos em família, como batizados.
"Rodrigo já corrigiu isso. Moreira não é seu sogro. A mulher dele é apenas enteada de Moreira", pontua.
"Minha relação com o Moreira sempre foi muito difícil. Ou fácil", ironiza.
O ex-prefeito do Rio diz que Temer é bem assessorado em relação às medidas encaminhadas ao Congresso. Mas que seus íntimos colaboradores deveriam tê-lo dissuadido da reunião com o dono da JBS, Joesley Batista.
"Ele teve esse encontro com o Joesley, e deve ter contado para um assessor, para o garçom. E esse alguém não disse 'isso é uma loucura'? Esse encontro foi máximo da imprudência."
FATOR RODRIGO
Para Maia, os principais assessores de Temer se sentiram ameaçados com a possibilidade de Rodrigo assumir o poder, tirando-lhes o cargo e o foro privilegiado, e, por isso, entraram em guerra contra seu filho.
"Aí esse entorno resolve se meter em assunto que não tem nada a ver. O Palácio é muito poderoso. Mas tem que tomar cuidado porque do outro lado também é muito poderoso."
Ele condena ainda a atuação do PSDB, alegando que os tucanos nem sabem sobre que muro estão. Segundo ele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem sido "ciclotímico".
"A posição dele oscila. Significa que ele está inseguro em relação ao quadro. FHC não é uma referência de opinião para as circunstâncias."
Recuperando-se de uma cirurgia na vesícula e hérnia umbilical, Maia se submete a sessões de fisioterapia três vezes por semana. Em casa, caminha um hora por dia. No exercício do mandato, o vereador pelo DEM se alia a dois vereadores do PSOL em oposição ao prefeito Marcelo Crivella (PRB).
A exemplo do ex-governador Leonel Brizola (1922-2004) –um antigo mentor–, Maia recebe políticos de diferentes partidos em seu apartamento. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Sérgio Zveiter (que pediu desfiliação do PMDB-RJ) já passaram por lá.
De acordo com Maia, Zveiter insistiu para que convencesse o filho sobre o ocaso de Temer. Morador do mesmo prédio, o primeiro relator da denúncia contra o presidente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara foi três vezes ao apartamento do ex-prefeito para falar sobre o destino de Temer.
Maia diz que se recusou a interceder nessa questão.
O ex-prefeito diz que soube pelos jornais sobre a mensagem de voz que sua mulher, Mariangeles, enviou ao filho para que não traísse Temer.
"Minha mulher é chilena. A única das irmãs que não se naturalizou. Você acha que ela me perguntou alguma coisa quando mandou mensagem para o Rodrigo?"
FUTURO
Em dezembro, diz, foi a vez do ex-prefeito Eduardo Paes procurá-lo após oito anos de afastamento. Cria de Maia, de quem foi subprefeito, Paes foi um duro opositor nas eleições de 2008. E, segundo Maia, manteve o ritmo de ataques após a disputa eleitoral.
No fim do ano passado, procurou o velho padrinho político em busca de conselhos. Segundo Maia, Paes perguntou se deveria deixar o PMDB para concorrer ao governo do Estado em 2018.
"Vai ser muito difícil para o PMDB em 2018", resume o vereador.
De casa, Maia envia uma newsletter por e-mail a cerca de 70 mil leitores a quem oferece suas análises. Ele afirma duvidar que o STF (Supremo Tribunal Federal) aceite um pedido de abertura de processo contra Temer antes das eleições de 2018 e diz não acreditar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso, entregue seus colegas numa eventual delação premiada.
"Será que Cunha, que era considerado um profissional, confiável para seus pares, teria produzido registros para isso? O que ele vai fazer? Vai sair delatando deputado? Dizem que ele tem o foco dele. O Moreira. Não sei se é o Temer. Vai ser isso. Mas dizem que vai ser na base do Joesley, sem vídeo."
O ex-prefeito rechaça rumores de que o filho teria refreado o desejo de assumir a Presidência por medo de se tornar alvo da Operação Lava Jato. "Nunca pedi dinheiro a empresário. Não tinha nem papo."
Maia se exime de qualquer responsabilidade pela crise que o Estado do Rio atravessa, alegando que só apoiou o governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) sob pressão de Aécio, que "estava de cabeça" na consolidação de ampla aliança, o "Aezão".
Sobre seu próprio futuro político, Maia brinca que gostaria de ser vereador para sempre. Mas ele sonha com o Senado. Sobre o destino do filho Rodrigo, o ex-prefeito diz que o presidente da Câmara deveria tentar a reeleição. Ele conta que muitos eleitores o procuram para ter acesso a Rodrigo.
Antes Rodrigo Maia era "o filho de Cesar". "Agora, eu que sou o pai do Rodrigo."
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