Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Dado como extinto com a derrota do grupo do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em duas eleições seguidas para o comando da Casa, o Centrão, grupo de legendas grandes e médias que ganhou força no governo Dilma, composto por PP, PR, PSD, PRB e PTB, além de outras siglas menores, aproveitou a fragilidade do governo Temer após a rejeição da denúncia de crime de corrupção passiva para voltar a pressionar por cargos e mais espaço. O alvo preferencial é o PSDB e o PSB.
Mas, diferentemente do que ocorreu sob a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, o grupo age sem a coesão de antes. Sem Cunha, o Centrão não tem um líder que centralize as articulações e trace uma linha geral de atuação. Também enfrenta disputas internas por cargos, que tendem a enfraquecer a pressão exercida sobre o governo.
PP, PSD querem, por exemplo, o comando do Ministério das Cidades, que Temer tende a manter com o deputado licenciado Bruno Araújo (PSDB-PE). A pasta também é cobiçada pelo PMDB. O PR e o PMDB do Senado se enfrentam pelo comando da Secretaria de Portos, numa briga que ocorre desde o início do governo Temer e esquentou com a votação da denúncia. Um líder governista afirma que esse tipo de disputa se reproduz até com mais intensidade nos cargos de segundo e terceiro escalão nos Estados.
Esse líder diz que, no próprio dia da votação da denúncia, essa pressão já era "infernal". "Era um deputado da base apontando para o outro e dizendo que queria os cargos dele porque votou X ou Y, que era absurdo o PSDB ter quatro ministérios, mas só 22 votos", disse. Ele pondera, porém, que só PMDB, PP, PTB, DEM e PR foram fiéis o suficiente e que as disputas internas do grupo devem enfraquecer o pleito.
O governo planeja atender aos pedidos individuais dos deputados da base, tirando os cargos dos infiéis e distribuindo aos que votaram pela rejeição da denúncia. Mas sem mudanças estruturais nos ministérios.
Para o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), sem mudanças mais profundas, o Executivo terá dificuldade para votar suas pautas. "O governo tem que entender que nasceu de novo no dia 2 e se readequar a essa nova realidade", afirmou. A articulação política, responsável por distribuir cargos e negociar com o Congresso, é uma das principais queixas do pepista. O PP comanda os ministérios da Agricultura e Saúde e a Caixa Econômica Federal.
O líder do PSD, deputado Marcos Montes (MG), afirmou que a manutenção dos infiéis só elevará o número de dissidentes nas próximas votações. "O presidente precisa se desprender da ideia de que precisa de quem foi infiel", disse. "Não podemos ser o para-choque de decisões importantes e que a sociedade está de olho e não sermos valorizados por isso", cobra o mineiro.
O grupo, pressiona o presidente Michel Temer a diminuir o espaço tucano no governo, até então tratado como aliado primordial e um dos avalistas da gestão do PMDB, mas que deu menos da metade dos votos pela rejeição da denúncia. Estão de olho em dois ministérios: a articulação política (Governo) e Cidades, com um dos maiores orçamentos da Esplanada.
Além disso, apontam também para o PSB como um dos que tem "espaço em excesso" para o número de votos que entregam. Na denúncia, mais da metade dos pessebistas votou pelo afastamento de Temer. Apenas um grupo menor, de 11 parlamentares, que está de saída para o DEM, apoiou Temer. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) é o principal cargo do PSB cobiçados pelo Centrão.
A tentativa do Planalto de preservar PSDB e PSB visa dois cenários. Primeiro, sinalizar ao mercado e empresários que ainda tem condições de aprovar uma agenda de recuperação econômica, embora isso tenha ficado muito mais difícil com a resistência da base ao aumento de impostos, à queda de três medidas provisórias, problemas para manter o Refis na versão desejada pela Fazenda e ao aumento da meta fiscal.
A outra é garantir a manutenção dos 263 deputados que votaram contra a primeira denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já que uma segunda denúncia deve ser apresentada até setembro. Esse placar é 91 votos acima do necessário para impedir o prosseguimento da segunda acusação. Mas os 26 deputados do PSDB que apoiaram o governo votando ou faltando, mais os 23 do DEM que seriam beneficiados com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumindo o Planalto, reduziriam o número à metade.
Já os integrantes do Centrão vão na linha contrária. Se os três maiores partidos do grupo, PP, PR e PSD, decidirem abandonar o barco, os 87 votos que deram para ajudar o governo serão "muito mais sentidos" que os do PSDB.
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