Sigla, que há 28 anos não lança nome ao Planalto, se inspira no exemplo do presidente francês, Emmanuel Macron
Felipe Frazão | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Alçado ao comando da Câmara com o deputado Rodrigo Maia (RJ), o DEM voltou a sonhar com a Presidência. Nos bastidores, o antigo PFL – também já foi Arena e PDS – prepara uma recauchutagem pragmática. O objetivo imediato é tornar-se um dos maiores no Congresso, recebendo deputados insatisfeitos em suas legendas. O plano de fundo, porém, passa por suplantar o PSDB, aliado histórico, para eleger oito governadores e tentar alcançar, de forma inédita, o Palácio do Planalto.
Há 28 anos o DEM não consegue nem apresentar um candidato ao Planalto – duas gerações de eleitores nunca puderam votar num político do partido para presidente. O último foi Aureliano Chaves, em 1989.
Na era petista, o DEM passou 13 anos no extremo da oposição e regrediu no perfil parlamentar. Se chegou a 105 deputados em 1998, elegeu apenas 21 em 2014. Passou por uma cisão liderada pelo ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) em 2011, que deu origem ao PSD, e chegou a arquitetar uma fusão fracassada com o PTB, em 2015.
Hoje, tem 30 deputados e nenhum governador. Seu único integrante de relevância no Executivo é o prefeito de Salvador, ACM Neto. “A prioridade é desenvolver um projeto presidencial. Se não der tempo, estamos abertos a conversas com todo mundo, desde que haja convergência de visões”, diz Neto.
Maia tem sido o articulador da migração dos parlamentares. A meta é reunir entre 50 e 60 deputados. A maioria dos insatisfeitos vem de uma dissidência do PSB, como Danilo Forte (CE), Tereza Cristina (MS), Fabio Garcia (MT) e Heráclito Fortes (PI). Também há afinidade com nomes do PSDB, PSD e PMDB. “Os acordos regionais estão fechados e não há conflito ideológico nem programático”, diz o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).
Centro. A estratégia do DEM para receber insatisfeitos do PSB é “suavizar” seu ideário de direita, trabalho do qual participam os ex-ministros Gustavo Krause e Roberto Brandt, o economista Marcos Lisboa e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia. O DEM quer ocupar o centro no espectro ideológico, tendo como exemplo o presidente francês, Emmanuel Macron.
“O posicionamento do Bolsonaro à extrema direita desloca o DEM para o centro. E o Lula, que já ocupou o centro no governo, voltou o pêndulo para a extrema esquerda, com apoio ao Maduro na Venezuela”, diz o líder do partido na Câmara, Efraim Filho (PB).
Nos rascunhos de um manifesto que planejam divulgar entram temas que eles consideram palatáveis à classe média. “Seremos intolerantes com o crime”, diz trecho a que o Estado teve acesso. Outras propostas são ter menos ideologia na educação, retomada do emprego, flexilibização do estatuto do desarmamento e redução do tamanho do Estado.
Um dos entraves do DEM é não ter um presidenciável com popularidade. A opção, hoje, seria “receber” nomes com afinidade, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, hoje no PSD, e o prefeito tucano João Doria. Semana passada, em Salvador, ACM Neto jantou com Doria, que depois confirmou o “interesse” do partido.
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