- Blog do Noblat
O secretário de Previdência, Marcelo Caetano, diz que se a Reforma Previdenciária ficar desidratada, não serve. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), diz a mesma coisa. As motivações, contudo, são diferentes.
A equipe econômica esticou a corda da reforma e cometeu erros básicos, por exemplo, ao retirar as Forças Armadas e a PM da proposta e manter as demais polícias no texto original. Criou uma climão antes do tempo, além de mostrar pouca sensibilidade política. Ou se mantém todos no barco ou se tira todos.
Além do mais, polícia é polícia. Quem lida com o crime e o perigo deve poder contar com uma Previdência específica e adequada às características de suas atividades. E, de ora em diante, que seja idealmente sustentável.
Porém, mesmo depois de o presidente Temer ter dado a palavra de que as Forças Armadas não entrariam na proposta, eis que elas são incluídas – meio que de lado – no texto.
Típica manobrinha da burocracia de gabinete que acha que tudo pode. Entre idas e vindas, terminou saindo.
No momento, o que o time econômico deve fazer é não verbalizar nada além do desejo de assistir o debate da reforma. Não é hora de dizer o que serve e o que não serve.
A motivação é fiscal, mas o debate é, sobretudo, político. E é a política que determinará – para o bem e para o mal – as fronteiras da reforma previdenciária.
Já o deputado Rodrigo Maia, ao defender uma proposta mais abrangente, faz um contraponto em relação aos líderes do Centrão que dizem que não querem votar nada. Maia está certo e deve verbalizar o que acha da questão. Já os líderes tratam de valorizar suas influências.
Como sabemos, o discurso político tudo pode. Todos sabem que os discursos do contra na base política embutem uma cobrança.
Chega a ser primário que alguns se prestem a dizer que não votam e, nos bastidores, expressam o desejo da reorganização da base como condição sine qua. Até na fome por cargos e verbas, a base deve demonstrar equilíbrio.
Equilíbrio que a ministra Cármen Lúcia demonstra ao propor que o Judiciário não tenha reajustes salariais no ano que vem.
Na situação fiscal em que vivemos, abordar a reforma é um imperativo.
Os líderes do Centrão deveriam estar do lado de Rodrigo Maia em favor da votação. Até mesmo pelo fato de que eles sabem que quanto mais profunda ela puder ser, melhor.
No entanto, sabemos que não é fácil aprovar hoje uma reforma muito abrangente. Mesmo em condições normais, FHC e Lula encontram muitas dificuldades. Paradoxalmente, temos chance de se avançar no tema. Desde que a melhor solução será a que se pautar pelo equilíbrio
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Murillo de Aragão é cientista político
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