Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - A falta de consenso sobre a reforma política deve inviabilizar a antecipação da janela para deputados trocarem de partido sem risco de perderem o mandato e adiar para março mudanças importantes para a disputa eleitoral de 2018. Segundo nas pesquisas de intenção de voto, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e sua família aguardavam essa brecha para deixarem o PSC rumo ao PEN - futuro Patriota - para disputar a Presidenta da República.
O DEM, que imaginava ser um dos principais beneficiados por uma janela antecipada, apresentou emenda à PEC que altera a regra para eleição de deputados e vereadores e cria o fundo eleitoral para permitir que, após a aprovação da reforma política, os parlamentares pudessem se filiar a outros partidos sem medo de perderem seus mandatos por infidelidade partidária.
A tendência, contudo, é que essa PEC, e consequentemente a emenda, sequer sejam votadas pela Câmara por falta de apoio mínimo para aprovação. Ainda ocorreria uma tentativa na noite de ontem de votar o projeto. Mas parlamentares do DEM reconheciam que os principais argumentos a favor da janela - readequações por causa da mudança no sistema eleitoral e do fundo para campanhas - não existiria.
Apesar da dificuldade, a presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), tentava articular emenda a outra PEC, que acaba com as coligações proporcionais, para antecipar a janela - que seria realizada agora em outubro e não mais em março. O texto precisava do apoio de 308 deputados para ser aprovado ontem.
A falta de uma janela enfraquecerá a estratégia do DEM de se tornar uma das maiores bancadas da Câmara e chegar a 2018 em condições de exigir espaços maiores na aliança governista. Os deputados do PSB que estão insatisfeitos com a postura do presidente da legenda, Carlos Siqueira, de orientar o partido contra o governo Temer e as reformas e iriam para o DEM não querem arriscar o mandato com discussões no Judiciário. "A tendência é todos esperarem a janela que já está aprovada em março", afirmou o deputado Rodrigo Martins (PSB-PI). "É melhor esperar um pouco mais para evitar a discussão judicial", disse.
No caso de Bolsonaro, o mais provável é também aguardar até março. Na opinião do líder do PEN na Câmara, deputado Júnior Marreca (MA), Bolsonaro poderia se filiar sem medo, porque já mudou de sigla na atual legislatura - ele foi eleito pelo PP. "Mas ele tem mostrado cautela porque essas coisas dependem de interpretação do Judiciário e podem dar algum problema", disse.
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