Para o ex-presidente do STF, houve uma precipitação no caso; ele também comentou o 'bunker de Geddel': "falta de visão pública"
Fábio Grellet | O Estado de S.Paulo
RIO - Ex-deputado federal, ex-ministro em três governos e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, de 71 anos, afirmou estranhar a rapidez com que a delação da JBS foi formalizada. “Eu não conheço o processo que está envolvendo a JBS, mas o que chamou atenção primeiro foi a rapidez com que a delação foi feita”, afirmou Jobim, em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila exibida em programa homônimo da TV Globonews na noite desta quarta-feira, 13. “Com base naquilo (delação), houve a primeira denúncia ao presidente Temer. Parecia que estava se transformando a denúncia numa espécie de início de processo de investigação. Houve uma precipitação, no meu ponto de vista”, concluiu.
Jobim também comentou o espanto que sentiu ao ver as malas de dinheiro encontradas em apartamento, em Salvador, atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. “É surpreendente, estarrecedor. Mostra o nível a que nos conduziu a impunidade e a falta de visão pública. Isso é péssimo. O problema é que essa imagem contamina toda a atividade política. É o que se chama, em filosofia, de generalização empírica.”
Questionado sobre as acusações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Jobim foi ministro da Defesa, ele preferiu não se posicionar: "Faz parte do jogo, do jogo processual penal. Tenho dificuldade em emitir juízo preliminar sobre uma situação que se conhece segmentadamente. Espero que se resolva. Vamos aguardar e deixar que essas coisas sejam conduzidas dentro do processo legal”.
O ex-ministro afirmou que o Brasil vive um momento de substituição das lideranças políticas e que teme o surgimento de um “salvador da pátria”: “Há uma espécie de gap, um espaço, porque está terminando a geração que sobreviveu ao sistema militar e que produziu a redemocratização. Nós estamos numa virada de momento. A geração mais nova não fez política, não tem experiência. Então o risco que podemos correr em 2018, já que as velhas lideranças dificilmente chegarão a 2018, é o surgimento de algum salva-pátria de última hora, aventureiro político, um populista, que tanto pode ser de esquerda como de direita”.
Jobim prevê ainda que, se as forças de centro não se compuserem, chegarão ao segundo turno candidatos antagônicos, de esquerda e direita: “Se tivermos uma candidatura forte à esquerda e uma de direita, nós podemos ter um segundo turno com esses dois personagens, se não houver um espaço de entendimento do centro. Veja o que aconteceu no Rio de Janeiro: vários candidatos de centro, seja de centro-esquerda, seja de centro-direita, e acabaram se afastando (do segundo turno)”.
O ex-ministro também comentou sobre o componente inédito que observa na atual crises política brasileira: o ódio. “Uma dificuldade de enfrentamento dessa crise política é que se introduziu uma variável que não havia na política: o ódio. Você tinha o conflito, o combate, o confronto, mas era o confronto político, com pessoas que não reverberavam intolerância”.
Para Jobim, as Forças Armadas só devem ser utilizadas para a segurança pública urbana em situações emergenciais: “As Forças Armadas, quando fazem esse tipo de operação, utilizam sempre os oficiais ou pelo menos os soldados de infantaria. A disciplina, a instrução que se dá ao soldado de infantaria não é para tratar com o cidadão delinquente, é para tratar com o inimigo. Há uma desconexão. Nós tentamos superar esse tipo de problema com as operações de paz. Mas isso não é bom, não podem as Forças Armadas ser usadas para isso. Só deve ser usada para isso em situações-limite. Não pode substituir a ação da Polícia Civil nem da Polícia Militar”, afirmou.
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