- O Globo
O Brasil pode crescer até 4% no ano que vem, por causa da força da queda da taxa de juros. Este ano, pode terminar com uma alta entre 0,8% e 1%. Mas o Brasil vai levar pelo menos cinco anos para recuperar o que perdeu em quase três anos de recessão. O ambiente na economia é de saída da crise, e os sinais disso estão espalhados por vários indicadores, como se viu ontem no mercado de trabalho.
Já é possível comemorar o fim da recessão? Os economistas Silvia Matos, da FGV, e José Carlos Carvalho, da Paineiras Investimento e Casa das Garças, disseram que sim. Eu os entrevistei na Globonews. Eles têm números diferentes, mas a mesma convicção de que o pior ficou para trás. Essa mesma mensagem de que os indicadores são compatíveis com um cenário de recuperação está no Relatório de Inflação.
A Fundação Getúlio Vargas tem o Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos que ainda não disse oficialmente se acabou a recessão iniciada no segundo trimestre de 2014. Porém, nos dois primeiros trimestres do ano houve alta do PIB, como se sabe. No primeiro, o crescimento foi de 1%, puxado pela agricultura. No segundo, 0,2% puxado pelo consumo, em grande parte impactado pela liberação do FGTS. No terceiro, a previsão da FGV é de 0,3%. Mas, nesse caso, a agricultura entra com sinal negativo, sem ela, a alta seria maior. Todas as projeções apontam para a manutenção dos resultados positivos.
— A inflação deve ficar em torno de 3%, o que está ajudando a renda disponível das famílias. Quando a inflação cai muito rapidamente, isso é muito bom para as famílias. Esse efeito já não vai ser tão benéfico no ano que vem — diz Silvia.
A queda da inflação permitiu a redução da Selic. José Carlos disse que há uma correlação direta entre queda de juros e alta do PIB. Pelos seus cálculos, se a taxa permanecer em torno de 7%, isso pode levar o país a crescer 4% em 2018, o que daria, por razões estatísticas, em torno de 3,6%.
— A queda de juros, de 14,25% para alguma coisa perto de 7% em pouco mais de um ano, é uma bomba atômica no bom sentido. É muito potente. São sete pontos percentuais de redução, o que faz com que a economia reaja por caminhos que a gente tem dificuldade de ver — disse José Carlos Carvalho.
Silvia Matos lembra que o investimento está negativo e deve fechar o ano assim, o que reduz o horizonte do crescimento. Mas, de qualquer maneira, ela acha que o país está sim saindo da recessão que consumiu 9% do PIB per capita em 11 trimestres.
— Isso foi uma crise sem precedentes, porque criada internamente por escolhas equivocadas de política econômica. E o pior é que a gente até investiu, mas investiu muito mal, como no caso da Petrobras. Isso dificulta retomar o investimento — diz Silvia.
José Carlos lembrou que seu otimismo é de curto prazo. O que está se falando é de dois anos de crescimento. O que vai acontecer além disso depende das eleições de 2018.
Essa saída da recessão vai levar à queda do desemprego no ano que vem, mas ainda assim ficará em nível alto. José Carlos prevê taxa de 8%. Já há melhoras discretas no mercado de trabalho. Ontem mesmo, o Ministério do Trabalho divulgou o quinto mês seguido de geração de empregos formais. Em agosto, o saldo foi de 35 mil. No acumulado desses cinco meses, entre abril e agosto, foram 174 mil vagas criadas. No mesmo período do ano passado, houve fechamento de 320 mil.
O mundo tem jogado a favor, com a ampla liquidez que tem sido mantida nos últimos anos.
— A maré de liquidez até agora só ajudou, e, quando a liquidez vem, todos os barcos sobem, o barco feio e o iate — diz José Carlos.
Tanto o Banco Central americano quanto o europeu anunciaram futuros aumentos das taxas de juros, o que pode levar à inversão do fluxo de capital. Mas isso é futuro. Por enquanto, o mundo favorece o país, e ainda houve o “choque positivo”, como os economistas gostam de dizer, da agricultura. Silvia Matos lembra que mesmo quando há fatos favoráveis, se não houver uma boa política econômica pode-se perder a oportunidade. José Carlos Carvalho calcula que se a Selic ficar em 7%e o país crescer 4% no ano que vem, o país pode ter, pela primeira vez na era do real, mais crescimento que juros reais. Isso seria o momento ideal para fazer reformas que garantissem crescimento sustentado.
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