Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Ao refundar o PFL, com a mudança de nome para DEM, em março de 2007, alguns de seus dirigentes apostavam que duas eleições gerais seriam o suficientes para o partido recuperar o protagonismo do passado. Àquela altura, a preocupação era estancar as perdas após os resultados desastrosos de 2006, quando a sigla perdeu 19 cadeiras na Câmara, uma no Senado e elegeu apenas um governador, José Roberto Arruda, cassado no fim do primeiro mandato, em 2010, por corrupção no episódio conhecido como mensalão do DEM.
Passados dez anos, duas eleições gerais com desempenhos pífios e uma cisão, em 2011, com a criação do PSD, cujo efeito prático foi a perda de 17 deputados federais, um senador e um governador (Raimundo Colombo, de Santa Catarina), além de dezenas de prefeitos, o DEM se vê às vésperas de outra eleição envolvido novamente em discussões internas sobre um novo batismo e a renovação do programa partidário. Mude e Centro são os nomes cogitados. Não há prazo para definição. Ao contrário de 2007, no entanto, o partido vive agora um momento de euforia.
Seus dirigentes avaliam que o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara em meio à divisão do tradicional aliado, o PSDB, abriram espaço para o fortalecimento do discurso liberal e o renascimento do partido. "O DEM está neste viés de alta. O pêndulo do eleitorado virou para a centro-direita. Basta ver as redes sociais. O partido colhe os frutos da oposição contundente aos governos do PT. Em 2018, seremos protagonistas, e não mais coadjuvantes", diz o deputado Efraim Filho (PB), líder da bancada na Câmara.
Enquanto sonda personalidades e políticos que possam encampar um projeto presidencial competitivo em 2018, como eventualmente o apresentador de TV Luciano Huck e o prefeito paulistano, João Doria (PSDB), o DEM se articula nos Estados para aumentar sua capilaridade nacional. A um ano da disputa eleitoral, seus dirigentes contabilizam 11 pré-candidatos a governador. Se todas essas candidaturas vingarem, a sigla terá o maior número de postulantes desde 1998, quando, como PFL, lançou nove nomes e elegeu seis governadores.
Aquela eleição marcou o auge do partido, considerado como o herdeiro da UDN e da Arena. Na ocasião, o PFL elegeu também a maior bancada na Câmara, com 105 deputados. De lá para cá, colecionou seguidas derrotas, inclusive, em tradicionais redutos eleitorais, como a Bahia, onde o carlismo - grupo em torno da liderança de Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) - dominou a cena política local até 2006, quando Jaques Wagner (PT) foi eleito governador.
A perda de espaço no cenário nacional condenou o DEM a um papel secundário no xadrez político-eleitoral. Em 2014, por exemplo, a legenda encabeçou a chapa de candidatos nos Estados apenas no Acre, com Tião Bocalom, e na Bahia, com o ex-governador Paulo Souto, ambos derrotados.
"A situação agora é diferente. Nossa filosofia se consolidou. Veja nossa capacidade de agregar. Na última eleição, elegemos 21 deputados federais. Temos 31 hoje e com as negociações em andamento caminhamos para ter cerca de 40", diz o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN). O partido hoje tem a sétima maior bancada na Câmara. Com palanques fortes nos Estados, os dirigentes trabalham com a expectativa de eleger até 50 deputados federais no ano que vem.
Uma das apostas nos Estados é o prefeito de Salvador, ACM Neto, que mesmo com os sinais de apoio do PSDB e do PMDB, não bateu o martelo sobre sua candidatura ao governo baiano. "Trabalhamos com a ideia de que ele será candidato. Não é hora para anúncios, mas não vejo motivos para ele não concorrer", diz o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
Nem todos os pré-candidatos, contudo, devem levar adiante seus planos. Há no DEM quem duvide que Rodrigo Garcia, secretário estadual de Habitação, dispute o governo paulista. Aliado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Garcia sinaliza a interlocutores a possibilidade de optar por uma vaga na Câmara, onde sua reeleição (está licenciado) é mais garantida.
O raciocínio do secretário estadual leva em conta um quadro fragmentado de candidatos e a perspectiva de disputa na base de Alckmin, já que o PSDB e o PSB, do vice-governador Marcio França, não abrem mão, pelo menos por ora, de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes.
Enquanto ACM Neto e Garcia se movimentam com discrição, outros correligionários já agem com mais desenvoltura. Cotado para concorrer ao governo de Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM) tem feito investidas no interior do Estado em agendas nos fins de semana com grupos religiosos, associações de classe, entre outros. O deputado Marcos Rogério (DEM) também segue a mesma estratégia em suas andanças por Rondônia para ouvir as demandas dos municípios.
Além deles, são pré-candidatos o ex-prefeito Cesar Maia, no Rio, o ministro da Educação, Mendonça Filho, em Pernambuco, os deputados federais Alberto Fraga, no Distrito Federal, Onyx Lorenzoni, no Rio Grande do Sul, e Luiz Henrique Mandetta, no Mato Grosso do Sul, o senador Davi Alcolumbre, no Amapá, e o deputado estadual Márcio Miranda, no Pará. As alianças, por sua vez, devem priorizar partidos da base do presidente Michel Temer.
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