Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Embora o governador paulista, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, João Doria, não apareçam entre os primeiros colocados nas pesquisas para presidente, os tucanos habituaram-se a repetir que "é um privilégio" ter dois nomes teoricamente competitivos para a principal disputa de 2018. O mesmo, porém, não pode ser dito sobre as eleições estaduais na maior, mais rica e mais influente região do país, o Sudeste. A um ano da eleição, o PSDB não tem candidato próprio e nem esboço de estratégia na área que reúne os três Estados mais importantes do ponto de vista eleitoral: São Paulo, Rio e Minas. De quebra, também não tem nome próprio no Espírito Santo, o quarto Estado da região.
A situação é duplamente preocupante para os tucanos. Primeiro pelas circunstâncias específicas de cada Estado. Segundo porque a ausência de nomes regionais fortes nas áreas populosas representa considerável vulnerabilidade para a disputa presidencial. Em 2014, a sigla naufragou no primeiro turno da eleição pelo governo de Minas, justamente o Estado do seu então candidato à Presidência, Aécio Neves. Após a vitória da petista Dilma Rousseff, não foram poucos os analistas que citaram o desempenho frustrante em Minas como explicação para a derrota tucana.
São Paulo é dominado pelo PSDB desde 1995, quando Mário Covas assumiu. Em 22 anos, o ocupante da cadeira principal do Palácio dos Bandeirantes não foi tucano só durante alguns meses de 2006, quando o então vice, Cláudio Lembo (PFL, atual DEM), substituiu Alckmin para que o titular disputasse a Presidência.
Agora, Alckmin terá que renunciar novamente caso queira tentar saltar para o Palácio do Planalto. O prazo é abril. Mas não há um nome natural no PSDB pronto para ser inscrito como candidato à sua sucessão. Dois se apresentaram: o deputado federal Floriano Pesaro, hoje secretário de Desenvolvimento Social, e o cientista político Luiz Felipe d'Avila, que jamais disputou eleição.
Nenhum dos dois é visto no meio político como nome competitivo de largada. Para vencer, teriam que repetir o surpreendente desempenho de Doria na disputa de 2016, fenômeno que não costuma ocorrer com frequência. E mesmo assim, com mais limitações na comparação direta. Ex-apresentador de TV, Doria já era publicamente conhecido quando entrou na disputa. Milionário, foi beneficiado pela regra que permitia autofinanciamento de parte importante da campanha. Enfrentou o PT no auge da rejeição ao petismo. E disputou um eleitorado geograficamente mais concentrado, o que facilita para quem é neófito.
Em Minas, o senador Antonio Anastasia, ex-governador, é visto internamente como nome competitivo. Mas, segundo tucanos ouvidos pelo Valor, o próprio Anastasia tem repetido que não quer disputar por não vislumbrar chance razoável de vitória.
O candidato tucano ao governo mineiro terá que enfrentar o governador Fernando Pimentel (PT), que, embora seja alvo de investigações, tem agora o domínio da máquina na tentativa de reeleição. O maior desafio, porém, está dentro do próprio PSDB. Será defender Aécio, chefe da legenda no Estado que caiu em desgraça ao ser gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista (propina, segundo o Ministério Público Federal e o delator, o que ele nega).
No Rio, a situação do PSDB não difere da vivida em 2014. Nanico regional, o partido não tem nome para a disputa. O que pode almejar é entrar como coadjuvante de outra candidatura.
No panorama geral, a situação do PSDB hoje nas disputas regionais contrasta com o que ocorreu em 2010. Naquele ano, o hoje senador José Serra perdeu a presidencial para Dilma. Mas o PSDB teve um desempenho considerado fabuloso nos Estados, com oito vitórias. Boa parte dos eleitos naquele ocasião foram reeleitos em 2014, como Alckmin, Beto Richa (PR), Simão Jatene (PA) e Marconi Perillo (GO). É esse ciclo que agora chega ao fim. E os sinais, pelo menos até agora, são de que esses políticos não foram bem sucedidos na preparação de uma nova geração para a hora da sucessão.
No Paraná, Richa também não tem candidato natural à sua sucessão. As tendências mencionadas são de apoio a Ratinho Júnior (PSD), deputado estadual, ou, menos provável, Cida Borghetti (PP), a vice-governadora casada com o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Situação parecida é a de Jatene, no Pará. Ele também tende a apoiar um nome de outro partido, o presidente da Assembleia local, Marcio Miranda (DEM).
Dos possíveis candidatos à re-eleição do PSDB, Reinaldo Azambuja (MS) é tido como competitivo. Mas, acossado por uma série de denúncias, Pedro Taques (MT) tende a enfrentar dificuldades.
São em alguns Estados não governados pelo PSDB hoje que despontam os nomes vistos como mais competitivos para 2018.
Em Santa Catarina, a aposta é no senador Paulo Bauer, que ficou em segundo em 2014. Em Alagoas, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, deverá polarizar contra o governador, Renan Filho (PMDB), que sofre desgaste por conta das denúncias contra o pai, o senador Renan Calheiros. No Piauí, Firmino Filho, prefeito de Teresina pela quarta vez, tem chance de chegar ao governo.
Outro nome que o tucanato vê com mais otimismo é o do ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Leite conseguiu eleger sua sucessora com mais de 60% dos votos no ano passado e, numa situação rara em se tratando de PSDB, tem conseguido unir as lideranças regionais da legenda em torno de seu nome.
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