Recentemente, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) anunciou o resultado da pesquisa trimestral Sondagem Econômica da América Latina, feita em parceria com o instituto Ifo, da Alemanha. No Indicador de Clima Econômico (ICE), o Brasil subiu 32,7 pontos, obtendo no período avaliado a nota de 91,7 pontos. Trata-se do melhor resultado em quatro anos.
Além de um cenário externo mais favorável, com a retomada dos preços das commodities, o desempenho positivo do Brasil é decorrência de uma melhora de vários indicadores macroeconômicos internos, avaliou a pesquisadora Lia Valls, da FGV. Ao mesmo tempo, lembrou a economista, as incertezas do cenário político levantam dúvidas a respeito da continuidade da trajetória positiva do indicador.
A ressalva sobre a manutenção da boa avaliação é pertinente, pois ainda não foi aprovada pelo Congresso a principal reforma capaz de proporcionar um equilíbrio mais estável às contas públicas, a da Previdência. De toda forma, chama a atenção que, num cenário conturbado politicamente, o País tenha conseguido apresentar o melhor clima econômico dos últimos quatro anos.
Logicamente, tal recorde também remete à situação anterior do Brasil. Não pairam dúvidas de que Lula da Silva e Dilma Rousseff deixaram o País em péssimo estado, não sendo coisa de outro mundo conseguir um patamar melhor de ambiente econômico.
Deve-se reconhecer, no entanto, que o resultado da pesquisa da FGV diz muito não apenas sobre os estragos petistas. A pontuação do Brasil no Indicador de Clima Econômico é especialmente surpreendente pelas circunstâncias do momento em que ela foi obtida. Os últimos meses foram de especial convulsão política, por força das delações da JBS e, depois, das denúncias do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer.
Não bastassem as dificuldades originadas em Brasília, o ambiente econômico sofria as consequências de três anos de Operação Lava Jato. Sem negar seus evidentes méritos, o sucesso da Lava Jato foi usado para o cometimento de algumas irresponsabilidades, com a fabricação de escândalos semanais, às vezes diários, que minavam a confiança da população e geravam efeitos tão nefastos quanto os da corrupção contra a qual se prometia lutar.
Foi esse o cenário político e institucional no qual o governo de Michel Temer conseguiu promover o melhor ambiente econômico de quatro anos, conforme constata a FGV. Sem dúvida, é surpreendente, também pelo fato de que, no período analisado, as pesquisas de opinião registravam sofríveis níveis de aprovação do presidente da República.
Parecia que se dava a pior situação possível – não poucos anunciaram, de maio para cá, a iminente queda do governo de Michel Temer – e, na realidade, brotava no País o melhor ambiente econômico dos últimos quatro anos. Tal contraste revela um ponto fundamental dos sistemas democráticos. A necessária dependência do voto não é uma condenação do populismo, como alguns equivocadamente presumem. É possível realizar coisas boas e acertadas, também por meio do Congresso, mesmo que elas não sejam propriamente populares.
Ao lado dessa constatação mais geral, brota também outra avaliação mais específica, a respeito do governo de Michel Temer. A atual administração teve e ainda tem muitos defeitos. Está longe de ser um governo perfeito. É de justiça, no entanto, reconhecer que o presidente Michel Temer acertou ao decidir não fugir dos principais desafios do País. Trabalhou e continua a trabalhar na direção correta, a despeito, repita-se, de vários, e alguns deles graves, equívocos de seu governo. Não se sabe ainda o final dessa história, até porque seu desfecho dependerá da atuação livre de muitos personagens. Essa realidade, que se poderia chamar talvez de “fragilidade” da democracia, apenas reforça a importância da responsabilidade e, de alguma forma, já agora, testemunha o acerto da decisão de Michel Temer de não se pautar pela popularidade.
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