Candidato à direita, o ex-presidente Sebastián Piñera teve um desempenho bem abaixo do esperado na primeira etapa das eleições presidenciais do Chile, ontem, e vai enfrentar um segundo turno mais difícil em meados de dezembro contra Alejandro Guillier, de centro- esquerda. Com 87% dos votos apurados, Piñera tinha 36,7% e Guillier, 22,7%.
Segundo turno acirrado
Piñera tem desempenho mais fraco do que o previsto, mas disputará com Guillier em dezembro
Janaína Figueiredo / O Globo
BUENOS AIRES- O primeiro turno da eleição presidencial chilena traçou o cenário previsto na corrida pela sucessão de Michelle Bachelet. De acordo com resultados oficiais divulgados, o ex-presidente Sebastián Piñera (2010- 2014) foi o candidato mais votado ontem e disputará o segundo turno em meados de dezembro com o candidato independente de centro-esquerda Alejandro Guillier. O que surpreendeu ontem foi o desempenho do ex-presidente e candidato da aliança de direita Chile Vamos, que, com 87% dos votos apurados, obteve 36,7% dos votos, muito abaixo dos 45% esperados por Piñera, fato que anteciparia um segundo turno bem mais acirrado do que se imaginava. Um dos fatores que teriam afetado a votação do ex-chefe de Estado chama- se José Antonio Kast, candidato de ultradireita que alcançou 7,9% com um discurso de defesa do pinochetismo e oposição a iniciativas instaladas na agenda política e social chilena, como casamento gay e aborto.
— Estamos felizes, porque esta noite conseguimos alcançar um grande resultado eleitoral… a partir de março espero ser o presidente da unidade dos chilenos — declarou Piñera, tentando minimizar o clima de decepção entre seus seguidores.
Ontem à noite jornalistas locais especulavam sobre mudanças no comando de campanha do ex-presidente, já que os resultados foram considerados quase uma derrota. Até ontem, a reeleição do ex- chefe de Estado era quase uma certeza no Chile. A partir de agora, essa é apenas uma das possibilidades. Outra que ganhou muita força é a formação de uma frente anti- Piñera. Um dos candidatos da centro- esquerda, o ex- socialista Marco Enríquez Ominami ( 5,7%), já anunciou sua decisão de votar por Guillier, que ficou em segundo lugar, como previram todas as pesquisas, com 22,7%. O candidato independente deverá começar imediatamente uma negociação com os demais partidos e movimentos de centro- esquerda, sobretudo com a esquerdista Frente Ampla, a grande novidade eleitoral da política chilena. Sua candidata, a jornalista Beatriz Sánchez, atingiu, segundo os resultados, 20,3%.
— Tenho a convicção de que hoje venceu o futuro, e não o passado — disse Guillier.
BACHELET CONVOCA PARTICIPAÇÃO POPULAR
A presidente, que se manteve bastante ausente na primeira etapa da campanha, enviou uma clara mensagem aos chilenos, através das redes sociais: “Chegou o momento da unidade de todos os chilenos e chilenas que desejam consolidar as transformações que levaram nossa Pátria a uma sociedade mais justa. No segundo turno veremos um # Chilemelhor”. Com Piñera, analistas acreditam que estariam em risco as reformas da educação, tributária e avanços em matéria de direitos civis como aborto e casamento gay. O ex- presidente Ricardo Lagos ( 2000- 2006) também expressou respaldo a Guillier.
Antes de encerrada a votação, o candidato independente defendeu a união de todos os candidatos de centro- esquerda — quatro no total — para impedir o retorno de Piñera ao poder.
— Os vencedores comemorarão, e os demais apoiarão, porque o que está em jogo, finalmente, é o bem do país — declarou o candidato, que, nas sombras, foi respaldado por Bachelet.
A incógnita é saber se Beatriz e a democrata cristã Carolina Goic ( 5,9%) aceitarão um entendimento com Guillier. Importantes representantes da Frente Ampla, sobretudo líderes estudantis, já anteciparam suas negativas a uma negociação com o candidato. Resta descobrir se esse discurso poderá ser alterado na segunda etapa, e isso dependerá da habilidade política de Guillier, que até agora se mostrou como “o candidato do povo” e se manteve afastado dos partidos.
— Tudo parece indicar que o segundo turno será mais complicado para todos, não só para Guillier, que ficou muito perto de Beatriz. Para Piñera também — explicou o professor Guillermo Hollzman, da Universidade do Chile.
Todas as pesquisas mais recentes davam a Piñera mais de 40% dos votos no primeiro turno, mas o ex-presidente não conseguiu alcançar esse patamar. Rádios locais informaram que teriam votado 6,5 milhões de chilenos, de um total de 14 milhões de eleitores. A abstenção ficou, assim, um pouco acima da registrada nas presidenciais de 2013. Na véspera, a chefe de Estado enviou uma mensagem pelas redes sociais: “O convite é para que todos participem, temos de escolher através do voto o Chile que queremos. Se você não votar, outros decidirão por você.”
Devido ao racha ocorrido na centro-esquerda — que provocou uma crise histórica na aliança de governo chilena — o Palácio de la Moneda não teve um candidato na eleição. No entanto, com alguns gestos sutis, a presidente expressou sua preferência por Guillier. Ontem, tentando manter sua posição pública de imparcialidade, Bachelet voltou a pedir aos chilenos que participassem das eleições. O temor de um altíssimo nível de abstenção — desde a reforma de 2012, o voto é voluntário — pairou sobre o Chile durante toda a campanha e preocupou, principalmente, a centro-esquerda.
Ontem os chilenos também votaram para eleger 155 deputados e 23 senadores.
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