Por Raymundo Costa e Ribamar Oliveira | Valor Econômico
BRASÍLIA - Os partidos que articularam e fizeram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff podem chegar à eleição presidencial de outubro com até quatro candidatos, mas é a disputa entre dois deles que no momento causa apreensão sobre o futuro da agenda econômica e da votação dos projetos de interesse do governo: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e Henrique Meirelles (PSD), ministro da Fazenda.
Até agora, ambos recusam a hipótese de o embate afetar a agenda econômica e a votação de projetos do governo, como a reforma previdenciária, prevista para fins de fevereiro, início de março. Meirelles acha que a reforma é do interesse de todos os presidenciáveis e, por isso, considera que a proposta será aprovada.
Aliados do ministro dizem que Maia tem interesse em aprovar a reforma para apresentá-la como resultado de sua gestão e de mais ninguém. Nem do presidente Michel Temer. A candidatura Maia tem origem num grupo de partidos que fizeram o impeachment de Dilma, dos quais devem ser destacados o PP e o Solidariedade.
O PTB está com Geraldo Alckmin (PSDB), assim como o PSD de Meirelles articula apoio à candidatura do tucano, mas ambos podem abandonar o barco de Alckmin na iminência de um naufrágio sugerido pelo baixo desempenho do governador paulista nas pesquisas. Segundo fontes do governo, o deputado Jair Bolsonaro, que deve ser o candidato do PSL, aparece nas pesquisas apenas cinco pontos abaixo de Alckmin no próprio Estado de São Paulo.
Em entrevista publicada ontem no jornal "O Globo", Rodrigo Maia fustigou a candidatura de Meirelles: "Tenho boa relação com o ministro e o que digo sempre é que tem que tomar cuidado de não misturar ministério com processo eleitoral", disse o presidente da Câmara, que ainda classificou de "analógica" a candidatura do ministro.
Ontem, no seu perfil do Facebook, Maia defendeu a adoção de uma agenda social e criticou Meirelles por ficar restrito às questões econômicas. Maia escreveu que essa agenda social deveria priorizar cinco urgências: saneamento, moradia segura, educação de qualidade, saúde e segurança pública.
Meirelles tem dito que está "100% focado" no governo e que suas decisões tem sido pautadas pelo ministro e não pelo presidenciável. Seus aliados vão mais longe e dizem que Maia procura se diferenciar do governo para não ser contaminado pela impopularidade do presidente, a exemplo do que fez em sua campanha para presidir a Câmara. O candidato que vai efetivamente defender o legado de Temer seria Meirelles.
Nem Meirelles nem Maia reconhecem que são candidatos. O primeiro diz que é presidenciável. O segundo, que seu nome é cogitado por haver um cenário de deserto na política. Mas tanto um quanto o outro já se movem como candidatos. Meirelles, no último sábado, teve encontro com evangélicos, público ao qual tem dedicado especial atenção; Maia, na próxima semana, pretende viajar aos EUA.
A agenda de Maia ainda não está fechada, mas o presidente da Câmara deve ter encontro com investidores americanos no país. Uma agenda típica de pré-candidatos em campanha. Ele vai a Washington e Nova York. Em princípio Maia deve falar na Câmara de Comércio Americana.
Além de Meirelles, Maia e Alckmin, os partidos que apoiaram o impeachment de Dilma ainda não descartaram a hipótese da reeleição do presidente Michel Temer, que tem até julho de prazo para se decidir. Os problemas são a impopularidade, que Temer precisa reverter, e a saúde do presidente, que permanece uma incógnita. Ele cogita, inclusive, não ir a Davos.
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