Antes mesmo do início formal da campanha ao Planalto, o deputado Jair Bolsonaro (RJ) dá mostras preocupantes de despreparo para lidar com questões básicas do escrutínio democrático.
Fala-se aqui da reação de Bolsonaro –ou das reações, melhor dizendo– a reportagem desta Folha que descreveu como se expandiu seu patrimônio e o de seus três filhos com mandato parlamentar.
A primeira atitude foi a recusa em apresentar explicações. Ficaram sem resposta as 13 perguntas encaminhadas ao pré-candidato à Presidência na quinta-feira (4), três dias antes da publicação do relato sobre o acúmulo de imóveis pela família ao longo de sua carreira política.
O silêncio só foi rompido após a veiculação do texto, em ambiente no qual o deputado se sente confortável, o das redes sociais. "O Brasil vive a maior campanha de assassinato de reputação de sua história recente protagonizada pela grande mídia", escreveu.
Impossível não notar na declaração o misto farsesco de megalomania e paranoia, mais o surrado ataque à atividade jornalística, tão encontradiços na retórica de defesa daquele que Bolsonaro escolheu como oponente preferencial, o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
"A realidade é dura para meus adversários. Precisam (...) apontar pra mim e me chamar de bobo e feio, enquanto suas opções são bandidos, criminosos, mau caráter, corruptos, canalhas, desonestos, e por aí", foi outra diatribe postada pelo presidenciável.
Não deixa de ser espantoso que alguém a reclamar de um imaginário atentado a sua reputação trate em tais termos o que parece ser o mundo político em geral –com o qual governará caso saia vitorioso da eleição deste ano.
De resto, o pré-candidato não contestou nenhuma das informações veiculadas acerca de suas posses, embora tenha dito ser vítima de "calúnia". Há um tanto de cálculo, decerto, na beligerância que insufla militantes; difícil imaginar, porém, que uma campanha inteira possa ser conduzida nesse tom.
Bolsonaro é depositário legítimo das intenções de voto de cerca de um quinto dos brasileiros, o que o torna, em contrapartida, motivo de amplo debate e inquirição.
O público tem o direito de saber que ele e seus filhos amealharam patrimônio imobiliário de ao menos R$ 15 milhões, tenha havido ou não ilícito no enriquecimento ao longo de três décadas.
Ou que sua migração do PSC para o PSL provocou a fuga do pequeno grupo de liberais que se aglutinava em seu futuro partido.
Propostas e afirmações desastradas, que o pré-candidato gostaria de deixar no passado, serão novamente trazidas à tona. Um programa de governo será cobrado e confrontado com a realidade.
Nada disso constitui perseguição. Trata-se de processo –falho, nem sempre justo, mas essencial– ao qual devem se submeter todos os postulantes a cargos eletivos.
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