Foi alertado que o vírus poderia voltar a circular no verão, e foi o que aconteceu; agora, autoridades correm em busca do tempo perdido
Quem conhece o assunto assegura que, pelo andar da carruagem, a foto de Lula estará na urna eletrônica. O Brasil se afasta aos poucos do ponto mais profundo de uma grave recessão econômica, a maior de que se tem notícia, mas há áreas específicas em que o país patina há algum tempo, e sem perspectivas de melhoria. Caso da saúde pública em sentido amplo e, em particular, do controle de epidemias.
Um marco nesta degradação é o início de um ciclo que se eterniza de surtos de dengue e de outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, mosquito controlado no Rio de Janeiro por Oswaldo Cruz, por volta de 1920, e erradicado do Brasil 30 anos depois. Relaxou-se e, no final da década de 60, o Aedes reapareceu.
Retornou à Região Metropolitana do Rio, e o vírus da dengue entrou no país pelo Norte. O vírus e seu mosquito inoculador produziram um grande surto no Rio em 1986, e aí começou uma sucessão de ocorrências país afora, também acrescentando doenças similares (zika, chicungunha). O problema se mantém insolúvel.
Chegaria a vez da volta da febre amarela, que atemorizara, com razão, os cariocas, no início do século passado. O resultado não poderia ser outro diante da virtual estagnação no saneamento básico, potencializada por uma urbanização explosiva, sem controle e sem planejamento. Lixões, lagoas e rios poluídos explicam parte ponderável da tragédia sanitária.
O poder público estava alertado, pela evolução do vírus da febre amarela, que ela poderia disseminar-se na região mais populosa e de importância estratégica, Rio e São Paulo.
O fato de a febre ter chegado à cidade de São Paulo e à periferia do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, como denunciam as mortes de macacos, sinal clássico da presença do vírus, comprova que as vacinações feitas, em Minas, principalmente, para tentar conter a disseminação do vírus foram um fracasso. A epidemia que ocorreu em parte do Sudeste nos últimos dois anos deveria ter induzido a elevação da barreira vacinal em áreas estratégicas. Nova Iguaçu, por exemplo, na Baixada Fluminense, onde está a Reserva Biológica do Tinguá, convertida num berçário de febre amarela, tem apenas a parcela de 24,1% da população vacinada, sendo que o índice considerado necessário para barrar o alastramento da doença é 90%. Na cidade do Rio, está em 40%.
Ontem, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, junto com os secretários de Saúde de Rio, São Paulo e Bahia, anunciou uma campanha de vacinação nos três estados. Corre-se em busca do tempo perdido, depois de o próprio Ministério haver anunciado, em 6 de setembro do ano passado, o fim do que chamou de um surto de febre amarela. Especialistas alertaram que o vírus voltaria a circular no verão. Acertaram, infelizmente.
Como faltam vacinas, as doses serão fracionadas, reduzindo a validade da imunização para oito anos. A dose integral imuniza por toda a vida. Tudo está carregado de evidências de descaso e improvisação. E continuam as mortes.
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