- Folha de S. Paulo
Se a economia vai mal, mas dá sinais tênues de vida, o que dizer da política, que ameaça matar a recuperação no berço?
A mera nomeação da irrelevância que será um ministro qualquer do Trabalho do país sem emprego se tornou um show de ridículo, embora essa piada já seja velha.
O vexame da tentativa de mudar uma norma de endividamento do governo, a "regra de ouro", prenuncia coisa pior.
A ministra do Trabalho cai pelas tabelas antes de tomar posse. Substituiria um ministro que caiu antes de ser nomeado, não faz uma semana, por veto de José Sarney, fóssil vivo da desgraça maranhense e hiperinflacionária, de impopularidade insuperada até o advento de Michel Temer.
Os mortos-vivos governam até os muito vivos.
A lambança toda começara com a substituição de um ministro que fez fama ao decretar vistas grossas para o trabalho escravo. Ficou, pois, provado que o governo não tem assessoria ou não tem noção, como diz o povo, é óbvio. Ninguém checou a ficha corrida ou se importou com a capivara de Cristiane Brasil, a quase ministra.
A lambança não seria completa sem a contribuição do Judiciário, que agora quer governar o país. Entre um dedaço judicial e as lambanças da casta política, se passou a aceitar a confusão dos três Poderes.
Trata-se apenas de mais um dos episódios de incompetência e degradação institucional que temos visto desde 2014. Porém, a única vantagem comparada deste governo, por assim dizer, seria a arte da mumunha política, da esperteza semiparlamentarista capaz de aprovar o que fosse no Congresso, não importando a repulsa nacional.
Seria assim que haveria até reforma da Previdência neste 2018. Agora, a reforma trabalhista aprovada tão correndinho quanto o homem da mala pode cair; não se consegue nem nomear um dois de paus para o Trabalho.
Pior é o caso da "regra de ouro". Seria até possível faturar politicamente isso que, no fundo, é um fracasso, a incapacidade do governo de limitar seu endividamento crescente.
Mas a turma de Temer lambuzou um fiasco com uma lambança, piorada por cotoveladas entre gente do governismo que quer ser candidata a presidente, Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, e Rodrigo Maia, que preside a Câmara.
A Constituição proíbe endividamento extra em valor que supere despesas de capital (investimentos "em obras" e alguns tipos de despesa financeira, grosso modo). Será impossível evitar o estouro desse limite em 2019. Seja como for, por bem ou por mal, será preciso emendar a Constituição a fim de evitar paralisias ou coisa pior no governo que assume no ano que vem.
Esse pacote poderia ser até bem embrulhado com uma conversa de "união nacional", de medida de interesse de todos os candidatos a presidente, afora boçais e oportunistas malucos.
Virou crise, a conversa parou e mostrou rachaduras juvenis e provincianas na política do governo. Enfim, sobrou a apenas a impressão de que o governo tentava remendar seu fracasso de conter os deficit e que os duques políticos e econômicos de Temer se dão caneladas, mesmo sob o risco de se afundarem, o país junto, ainda mais.
É essa turma que, diz, vai tentar aprovar a reforma da Previdência.
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