- O Globo
A disputa entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para ver quem é o mais importante agregador político e, por consequência, candidato a presidente da República, é uma briga de cachorro grande que não é boa para o governo.
O erro deles é não perceber que um candidato do governo só tem chance se a economia melhorar, e se esta briga atrapalhar a aprovação de reformas, sobretudo a da Previdência, eles não irão a lugar nenhum. É por isso que o ministro da Fazenda não deveria deixar clara sua pretensão de vir a ser candidato, porque nessa divisão dificilmente haverá questão importante, ou mesmo votação, que não sofra interferência dessa disputa política dos dois.
A discussão sobre a tal “regra de ouro” do Orçamento é um exemplo dessa situação. A “regra” prevista na Constituição serve para evitar que o governo aumente sua dívida para pagar despesas correntes, como folha salarial e serviços de órgãos públicos.
O presidente da Câmara se sentiu “traído” quando Meirelles disse que era contra, puro e simplesmente, acabar com a “regra de ouro”, e suspendeu o debate que havia iniciado. “Não gosto desta proposta. (...) Queremos que a regra seja seguida, e não suspensa”, argumentou.
Meirelles acha que vai ser identificado como o grande líder dessa melhoria da economia, enquanto Rodrigo Maia considera que a aliança política que controla no Congresso se refletirá no apoio à sua candidatura. Atribui-se a ele a classificação de Henrique Meirelles como um político “analógico”, quando o eleitorado está a exigir um candidato “digital”, antenado com o mundo moderno.
A diferença entre o caso atual e a indicação do então ministro da Fazenda Fernando Henrique para ser o candidato do governo na eleição de 1993 é que não havia, no início, uma certeza de que o Plano Real poderia eleger o presidente. Tanto que o candidato preferido do presidente Itamar Franco era o ministro da Previdência Antônio Britto, ex-porta-voz de Tancredo Neves e que se tornou muito conhecido e com alta credibilidade nos meses que antecederam a morte do presidente eleito que não tomou posse.
A incerteza era tamanha que Britto não quis enfrentar o desafio, e Fernando Henrique acabou tornando-se o candidato oficial. Hoje, existe a previsão, do meu ponto de vista enganosa, de que a melhora da economia será forte a ponto de eleger o candidato do governo. O ministro Meirelles tem gráficos que mostram que por volta de setembro a sensação de bem-estar da população estará revertida, e a percepção do governo melhorará.
Existem dois problemas para ele: tem que deixar o Ministério da Fazenda em abril se quiser se candidatar, e até lá essa reversão de expectativa não estará realizada. Por outro lado, se a economia tiver condições de eleger um candidato do governo, este será o próprio Temer, se a saúde permitir.
Já o presidente da Câmara pode ficar no seu posto, e terá, portanto, mais tempo para articular apoios políticos até as convenções partidárias que escolherão oficialmente os candidatos.
Quem também disputa o apoio dos partidos da base aliada à distância é o governador, e provável candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que conta com a força da máquina partidária nacional dos tucanos para arregimentar apoios de outros partidos e ter uma presença forte na propaganda de televisão e rádio.
A força dos novos meios de comunicação será muito importante na próxima campanha eleitoral, alguns consideram que pode ser até maior do que a das máquinas partidárias. O candidato Jair Bolsonaro, embora tenha uma máquina partidária fraca, tem a maior participação nas redes sociais entre os candidatos já colocados.
Vai ser a primeira vez que teremos o embate entre as mídias sociais e a força partidária tradicional. Geraldo Alckmin está tão certo de que as máquinas partidárias serão fundamentais em uma eleição “casada” como a deste ano, em que serão eleitos todos os governadores, a Câmara e 2/3 do Senado, que ontem estimulou a entrada na disputa de vários candidatos do centro, citando inclusive o apresentador Luciano Huck, Rodrigo Maia e Meirelles.
O certo é que a população está querendo mudanças, e a tendência a votar nulo ou branco é imensa, pela descrença nos políticos tradicionais. Se um outsider aparecer com força nas redes sociais, pode acabar chamando para si as máquinas partidárias que estão hoje fragmentadas entre diversos candidatos. Além disso, se o centro se dividir entre várias candidaturas, os extremos, que hoje lideram as pesquisas eleitorais, podem se beneficiar.
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