O cenário de economia aquecida, que prevalece em boa parte dos países desenvolvidos, pode ser encarado como uma boa notícia para o Brasil na medida em que se prenuncia um ano com demanda para os produtos nacionais, mas também pode servir como um sinal de alerta para uma eventual aceleração dos processo de mudanças das políticas monetárias dos bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão.
Na semana passada, a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) expressou maior confiança no mercado de trabalho e na economia em geral, mas seus diretores também discutiram o que poderá levar as autoridades monetárias a elevar os juros mais rapidamente do que o esperado até agora.
Diz o documento do Fed, que "os integrantes discutiram vários riscos que, se concretizados, poderiam exigir uma trajetória de elevação dos juros mais acentuada. Estes riscos incluem a possibilidade de que a pressão inflacionária suba mais do que o esperado (...), talvez devido aos estímulos fiscais ou às condições de mercado acomodatícias."
De acordo com a medida de inflação preferida pelo Fed, o índice de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), os preços ao consumidor subiram 1,8% em novembro, na base anual, mas a aceleração dos preços refletiu, em grande parte, a alta dos preços de energia. O núcleo da inflação apontou alta menor, de 1,5%, na base anual em novembro.
Ou seja, a inflação talvez seja a questão mais importante para o Fed neste ano. Caso os dados inflacionários mais fracos continuem a contrariar as projeções do Fed, de que o índice voltará aos 2% no médio prazo, o BC pode continuar elevando os juros lentamente. Mas se a inflação ganhar ímpeto, isso poderia levar os integrantes do BC americano a elevar os juros mais de forma mais agressiva. O que seria ruim para o Brasil, que conta com um cenário externo que facilite investimentos de fora.
Até agora, neste início de ano, praticamente todos os principais indicadores econômicos divulgados tanto no mundo ocidental quanto na Ásia confirmam o bom momento econômico em termos de ritmo de atividades. Na segunda-feira, por exemplo, foi anunciado que o índice de confiança na economia na zona do euro atingiu o maior nível em mais de 17 anos. O que sugere fortemente que tanto consumidores quando empresas estão se beneficiando do bom momento econômico do grupo formado por 19 países.
Ontem, novas estatísticas vieram corroborar a avaliação positiva sobre a economia europeia. A taxa de desemprego da zona do euro caiu para 8,7% em novembro., em linha com as previsões do mercado. Trata-se do menor patamar para o indicador desde 2008, quando eclodiu a crise financeira global.
Especificamente em relação à Alemanda, carro-chefe da zona do euro, avaliações sobre outras atividades confirmam o bom momento econômico. Em novembro, tanto as exportações quanto as importações da Alemanha subiram mais do que se imaginava, em uma indicação positiva para o comércio global. Também em novembro, a produção industrial alemã teve desempenho muito acima do esperado pelos analistas.
Mesmo nos países da 'periferia' da zona do euro a economia se apresenta bem mais saudável. A taxa de desemprego em Portugal em outubro foi a mais baixa dos últimos 13 anos. O Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu em baixa de 0,1 pontos percentuais a taxa de desemprego de outubro para os 8,4%.
Com isso, o setor industrial em muitas regiões do mundo estão sinalizando dificuldade em atender a demanda. Isso pode obrigar as indústrias a elevar os preços, num momento em que a economia mundial parece pronta para usufruir de seu ano mais sólido desde 2011.
Uma série de indicadores de encomendas divulgados nos últimos dias de países como China, Alemanha, França, Canadá e Reino Unido apontou para o aprofundamento das limitações na oferta de produtos. Essas pressões sobre a produção podem levar as empresas a ter de contratar ou a investir mais para evitar o superaquecimento, mas podem também obrigá-las a elevar os preços, o que impulsionará a inflação o suficiente para engessar a expansão. O J.P. Morgan Chase está entre os bancos que preveem que o crescimento mundial será de cerca de 4% neste ano.
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