- Folha de S. Paulo
Quando Dilma Rousseff se reelegeu, a confiança dos consumidores aumentou, mais ou menos, a depender da pesquisa. Mas houve, sim, alguma reanimação popular entre meados do ano e outubro de 2014, como costuma acontecer quando se elege um presidente.
Notícias de reviravolta de promessas e programas da campanha do PT, o estelionato eleitoral, provocaram um choque imenso no povo comum. Logo no início de 2015, começaria a derrocada rápida do ânimo dos consumidores e do prestígio político da então presidente, o que contribuiu para derrubar a economia e provocar aversão profunda a Dilma.
E daí? Dilma Rousseff? 2014? Arqueologia? Não só.
A expectativa de melhoras na economia enfim voltou ao nível da breve esperança daquele outubro da reeleição de Dilma.
Especula-se muito sobre os efeitos da economia em eleições, embora raramente se defina bem o que se quer dizer com "economia" e "efeito". Mesmo que a economia, entendida como crescimento do PIB, ande bem, o povo pode ir mal. Até um ditador-general o reconheceu em pleno "milagre econômico", quando a economia cresceu mais de 10% ao ano, entre 1970 e 1975.
A economia ainda vai mal; o povo, ainda pior. Mas os ânimos mudam. Não quer dizer que se trate de boa notícia para o governismo, que ao menos por enquanto causa repulsa ao eleitorado por motivos diversos e intensos.
Mesmo a queda da inflação, em geral politicamente relevante, e o estancamento da sangria do desemprego ainda não deram refresco à impopularidade do governo de Michel Temer.
No entanto, é possível que a melhora da confiança amaine revoltas políticas maiores e a inclinação ao voto de protesto mais tresloucado. Melhoras econômicas reais, no que interessa ao cotidiano real da população, também devem começar a aparecer.
O nível do sentimento das condições econômicas atuais das famílias ainda está deprimido, semelhante ao registrado em meados de 2015, quando o pior da recessão ainda estava por vir, embora o drama já estivesse evidente nas demissões em massa, nos choques de preços e de juros. Havia muito motivo para medo, que agora se dissipa. O sentimento da situação corrente da economia recuperou-se das profundas do inferno por onde andou entre fins de 2015 e inícios de 2017.
Empresários, porém, estão muito mais animados que o povo miúdo. Não é difícil entender. O consumo de varejo cresceu pouco mais de 1% no ano passado. Apenas em dezembro chegou ao fim a perda de empregos formais (na comparação anual). A taxa de desemprego anda pelas cercanias de 12% faz tempo.
A degradação de condições de vida foi tremenda, a segunda maior baixa de PIB per capita desde 1901. Além disso, tal desastre era inédito para muita gente. Cerca de metade dos brasileiros hoje adultos era jovem demais ou, claro, nem tinha nascido quando acabou a hiperinflação, em 1994, por exemplo.
No entanto, os ânimos se movem, ao menos no que diz respeito a perspectivas de melhoria das condições materiais de vida. Não é por isso que brotarão decerto votos em programas "pelas reformas" ou, menos ainda, em candidatos identificados com o governismo. Mas convém não desprezar a provável mudança de ares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário