domingo, 28 de janeiro de 2018

Ranier Bragon: Os calculistas

- Folha de S. Paulo

É muita hipocrisia reunida, mas seja compreensivo: você provavelmente não faria muito diferente se estivesse no lugar deles.

Qual foi a reação dos concorrentes de Lula à confirmação da condenação do petista pela harmoniosa trinca de magistrados do TRF-4?

Ressalvando que nem toda a farinha é do mesmo saco, o cálculo eleitoral definiu o dito e o não dito.

Aspirantes a liderar uma renovação da esquerda, Guilherme Boulos (possível candidato do PSOL) e Manuela D'Ávila (PC do B) foram os únicos a defender Lula de forma enfática e a criticar a popularíssima Lava Jato.

Já o verborrágico Ciro Gomes (PDT), igualmente desejoso de eventual espólio lulista, evitou bater na investigação. Mas lamentou a sorte do "amigo e ex-presidente", dizendo torcer para que ele reverta a decisão.

Até agora quem mais herdaria os votos de Lula, a ex-aliada Marina Silva (Rede) também não rasgou dinheiro. Exercendo uma de suas principais habilidades, falou, falou e não deixou claro seu ponto de vista —defendeu as investigações, mas não citou o nome Lula uma única vez.

Os que buscam se cacifar eleitoralmente como "anti-Lula" não economizaram na comemoração e na ode à Lava Jato. Jair Bolsonaro (PSC) postou fotos sorridentes ao lado da imagem da TV durante o julgamento. Fuzilar diariamente Lula e a esquerda tem garantido a ele expressiva fatia do eleitorado mais conservador.

Os que disputam a autointitulada "candidatura de centro", sedenta tanto de votos lulistas quanto de antilulistas, se empoleiraram em cima do muro. Geraldo Alckmin (PSDB) recorreu a platitudes —"A decisão cabe à Justiça"—, Rodrigo Maia (DEM), também alvo da Lava Jato, manifestou desejar que o país siga "pacificamente rumo à superação". Henrique Meirelles (PSD) nem um pio deu.

Segundo o Datafolha, uma montanha de eleitores (38%) ou é entusiasta de Lula ou o rejeita completamente (31%). Esses números ditam a sinceridade de seus concorrentes.

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