domingo, 28 de janeiro de 2018

Celso Ming: Desvio de rota

- O Estado de S.Paulo

Não é mais possível aceitar que o único projeto do PT e das esquerdas brasileiras seja o de salvar o Lula.

Há tanta coisa a reconstruir, a começar pelas ruínas financeiras da Previdência Social, que hoje comprometem gravemente a aposentadoria das novas gerações. Seguir afirmando que esse rombo foi criado pelas elites é tentar ignorar a trombada que vem vindo aí.

Há, por exemplo, uma indústria a reidratar depois de tantos anos de descuido, de despejo de recursos nas contas bancárias de meia dúzia de futuros campeões nacionais e de tantas barbeiragens em matéria de política industrial produzidas pelos governos do PT.

Se o agro tivesse sido confiado ao MST e ao João Stédile, o Brasil não estaria produzindo 240 milhões de toneladas de grãos. E não teríamos hoje mais do que o jogo miúdo que mal supera programas de economia de subsistência e a sistemática destruição de experimentos agrícolas de empresas e de institutos de pesquisa.

O mundo passa por impressionantes mudanças tecnológicas, que estão dizimando empregos e criando novas formas de atividade econômica e de trabalho. E, no entanto, as esquerdas comportam-se como os taxistas contra o Uber, contra o Cabify e contra os aplicativos. Aferram-se à preservação do imposto sindical e à manutenção de postos de trabalho de profissionais que vão sendo substituídos por formas novas de atividade remunerada. Bancários, carteiros e telefonistas são ocupações em extinção (ou em forte redução), e não há como mudar esse jogo.

Há um sistema educacional a reconstruir diante da grande explosão da nova revolução industrial, da tecnologia da informação, da inteligência artificial e da internet das coisas. Mas a pregação das esquerdas é de que a principal coisa a fazer aí é inculcar nas crianças o catecismo da luta anti-imperialista.

E há um sistema de saúde a remodelar, num momento em que o aumento da expectativa de vida reduz a importância da luta contra doenças infecciosas e aumenta a da luta contra doenças degenerativas.

Se é para construir a democracia, não podem os dirigentes das nossas esquerdas pregar a desobediência civil e o desacato a algumas decisões da Justiça e não a outras.

Aí já tem munição para muita conversa da qual esta Coluna não fugirá ao longo deste ano. É cada dia com sua agonia, como diz o Evangelho de Mateus (6,34). Mas não posso deixar passar este espaço sem algumas considerações sobre as contas externas em 2017, que vão no Confira, abaixo.

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