O presidente Michel Temer levou a Davos a mensagem necessária a respeito do Brasil pós-populismo. O Brasil está de volta, disse ele a uma plateia de executivos e investidores. Mas a mensagem vale para toda a comunidade – empresarial e política – relevante para um país em busca de integração efetiva na ordem global do século 21. Não por acaso, foi o mesmo tipo de mensagem apresentado pelo presidente argentino, Mauricio Macri, representante de um país também saído, há pouco tempo, de mais uma desastrosa experiência populista.
O governo brasileiro nunca deixou de ser representado na reunião do Fórum Econômico Mundial. Mas sua presença, nos anos finais do período petista, foi marcada pela rejeição dos valores do liberalismo econômico e político, da abertura comercial e, portanto, dos padrões contemporâneos de integração.
Num dos últimos anos, o ministro da Fazenda nem sequer apareceu. Davos, segundo explicou na ocasião o ministro de Relações Exteriores, único representante do primeiro escalão, era um local para pessoas em busca de promoção. Ele disse isso, na sua simplicidade, a dois jornalistas brasileiros participantes, no dia anterior, de um encontro com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos.
A agenda desses e de outros jornalistas estava carregada, naqueles dias, de entrevistas e eventos com ministros e chefes de governo de países avançados e emergentes orientados por planos ambiciosos. Todos em busca de promoção pessoal?
A volta mencionada pelo presidente Michel Temer significa, portanto, mais que um mero retorno a um ponto geográfico. Indica uma volta à sensatez, à convivência normal entre pessoas, organizações privadas e entidades políticas preocupadas com objetivos básicos como a cooperação, a prosperidade e a segurança.
Nem sempre esses objetivos são facilmente atingíveis e os bons frutos alcançados nem sempre se distribuem com a desejável equidade. A globalização foi marcada por enormes avanços tecnológicos e econômicos, mas milhões de pessoas ficaram para trás, incapazes de se encaixar no mundo em acelerada transformação. Os desajustes econômicos, sociais e políticos produzidos pela globalização compõem boa parte das discussões do Fórum de Davos, neste ano.
Não se trata, no entanto, de jogar fora os avanços conseguidos com a modernização tecnológica, com a formação das novas cadeias internacionais de produção e com a multiplicação de acordos comerciais. Trata-se de rever de forma crítica a experiência recente e de criar políticas de inclusão compatíveis com as novas condições da tecnologia e da produção. Nenhuma dessas correções será possível com a distribuição de diplomas pelo facilitário, com a expansão inconsequente das matrículas e com a multiplicação de universidades indigentes, como no paraíso educacional petista.
Brasil de volta significa, portanto, retorno a valores como a racionalidade, a responsabilidade e a eficiência, enumerados no discurso do presidente Michel Temer. O balanço econômico resumido em sua exposição – fim da recessão criada pelo petismo, retorno gradual ao crescimento, controle da inflação e compromisso com ajustes modernizadores – aponta os primeiros efeitos da mudança. O presidente mencionou a expectativa de consagração dessas mudanças na campanha eleitoral e, enfim, nas escolhas dos eleitores. É muito cedo para dizer se esses prognósticos são excessivamente otimistas ou se denotam algum realismo. Quem acompanha as custosas negociações de apoio parlamentar aos projetos do governo tem razões para ser cauteloso quanto a essas previsões. O governo precisa melhorar muito sua comunicação com o público nacional para mobilizar o apoio mais amplo às mudanças modernizadoras.
Mas o recado essencial foi transmitido à comunidade internacional. Um de seus aspectos mais positivos foi a abordagem de assuntos muito importantes nos debates de Davos, como democracia liberal versus populismo, cooperação versus nacionalismo e abertura comercial versus protecionismo. O Mercosul, segundo Temer e Macri, está hoje do lado da racionalidade, da democracia liberal e da integração cooperativa.
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