terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Acesso à internet ainda falha e prejudica competitividade: Editorial | Valor Econômico

Em um momento em que a indústria internacional discute o lançamento para breve das redes de telefonia móvel 5G, que permitirá a troca de dados entre aparelhos praticamente em tempo real, e empresas de transporte com veículos autônomos começam a funcionar, chega a ser bastante desanimador o quadro da situação da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) do Brasil, pintado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados indicam que o uso da internet no país parece ter estagnado. O preço do equipamento necessário e o custo do serviço explicam em boa parte porque isso está acontecendo, além da falta de acesso às redes. Mas também há falta de interesse ou de conhecimento.

Elaborada a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (Pnad Contínua) de 2016, a TIC constatou que 30,7% dos domicílios brasileiros não tinham acesso à internet. Visto de outra forma, a pesquisa mostrou que 44% da população, ou 90,2 milhões de pessoas, não acessaram a internet nos 90 dias anteriores à pesquisa. Levando-se em conta o segmento com 10 anos ou mais, o percentual é de 35%. A situação varia conforme a região. No Sudeste, o percentual da população sem acesso à internet com 10 anos ou mais cai a 27,7%, enquanto no Nordeste sobe para 47,7%. O Centro-Oeste surpreende ficando logo atrás do Sudeste, com 28,2% da população fora da rede, e à frente do Sul, com 32,1% e do Norte, com 45,7%. Para navegar na internet, a grande maioria da população - 97,2% dos domicílios - usou o celular, que desbancou definitivamente o computador, seja de mesa ou notebook, que prevalecia.

Fazia muito tempo que o IBGE não pesquisava o assunto, apesar de sua importância. A última vez foi em 2005, usando critérios diferentes, que não permitem uma comparação. Ainda assim, para se ter uma ideia, se apurou naquela ocasião que 71% da população usava a internet para a educação e aprendizado e 68,6% para se comunicar com as pessoas.

Estudo mais recente foi o realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que entrevista pessoas em abordagem domiciliar, mas também é incomparável. De toda forma, a pesquisa mais recente dessas entidades, a TIC Domicílios 2015, mostrou números próximos, com 42% da população sem acesso à internet.

Essa pesquisa não tem o recorte regional da Pnad, mas apresenta uma abordagem por classe social que guarda uma certa semelhança. Apesar de o acesso à internet ter aumentado mais na população de mais baixa renda, são os mais ricos que dominam a ferramenta. O levantamento constatou que 95% dos entrevistados da classe A haviam utilizado a rede menos de três meses antes da pesquisa. O percentual cai para 82% na classe B; para 57% na C, e para 28% para a D/E.

Conforme o IBGE a questão financeira tem forte influência no uso da internet. Em 29,6% dos domicílios que não têm internet, a razão alegada foi o preço do serviço ou do equipamento utilizado. A elevada incidência de impostos explica em boa parte o problema. Relataram falta de interesse 34,8% dos entrevistados; 20,7% alegaram não saber usar o serviço; e 8,1% afirmaram não haver acesso ainda à rede na área onde moram.

Um ponto relevante que reforça a influência da renda, é o uso da internet pelo segmento de estudantes na população. Entre esse público, que soma 37,2 milhões de pessoas com 10 anos ou mais, 81% acessam a internet, sendo que o percentual chega a 97,4% entre os que frequentam escolas privadas e de 75% nos da rede pública de ensino. Entre os não estudantes, o percentual cai para 60,4%, mais perto da média.

Os números mostram a importância da educação com acesso às ferramentas mais modernas de ensino e estudo para colocar o país na linha de frente em competitividade e produtividade. O acesso à internet também tem relação com a colocação ruim do país em produtividade no trabalho, no 50º lugar entre 68 estudados pela Fundação Getúlio Vargas. A FGV apurou que baixa qualificação da mão de obra e falta de investimento em inovação estão na lista de fatores relacionados ao desenvolvimento digital.

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