O ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner, opção do PT na corrida presidencial, foi alvo de operação da Polícia Federal que investiga R$ 450 milhões de superfaturamento na obra da Arena Fonte Nova. Wagner é suspeito de ter recebido R$ 82 milhões, entre doações e propinas, da OAS e da Odebrecht. Ele nega.
Wagner entra na mira
Cotado para substituir Lula na campanha, ex-governador da Bahia é alvo de ação da PF
Gabriel Cariello e Miguel Caballero | O Globo
Cotado como alternativa do PT ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a corrida presidencial, o ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner foi o principal alvo de uma operação da Polícia Federal, deflagrada ontem, que investiga superfaturamento em contratos para a reforma da Arena Fonte Nova, em Salvador. Wagner é acusado pela PF de receber R$ 82 milhões em propina e doações eleitorais das duas empresas que formaram o consórcio responsável pela obra: Odebrecht e OAS. Ele nega irregularidades. O PT classifica a operação de “episódio de perseguição contra o partido”.
A delegada responsável pela Operação “Cartão Vermelho”, Luciana Matutino, afirma que o superfaturamento da reconstrução do estádio soma cerca de R$ 450 milhões, em valores atualizados. O custo equivale a cerca de 65% do total gasto na obra. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em todo o Brasil revelaram suspeitas de despesas muito superiores às orçadas em várias cidades da Copa. No Maracanã, no Rio, e no Mané Garrincha, em Brasília, os custos finais extrapolaram em mais da metade o orçamento inicial.
No caso da Fonte Nova, as investigações indicaram que os supostos pagamentos ao ex-governador baiano saíram do montante recebido pelas empreiteiras. Delações de executivos das construtoras e de políticos apontam que Jaques Wagner é o sétimo chefe de executivo estadual acusado de receber propina em obras das arenas. Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Agnelo Queiroz (PT-DF), José Roberto Arruda (PR-DF), Eduardo Braga (PMDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e Silval Barbosa (PMDB-MT) também já foram citados. À exceção de Silval Barbosa, todos os outros políticos acusados negam qualquer ato ilícito.
— O somatório de R$ 82 milhões foi o total identificado nesta investigação que foi doado pela OAS e Odebrecht para o ex-governador — disse a delegada, em entrevista após a operação.
Agentes da PF cumpriram sete mandados de busca e apreensão: na casa de Jaques Wagner em Salvador; na secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, da qual ele é titular; e em outros endereços na capital baiana ligados ao secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, e ao empresário Carlos Daltro, amigo de Wagner. Segundo a delegada, foram apreendidos documentos, computadores, mídias e cerca de 15 relógios do ex-governador. A Polícia Federal chegou a pedir a prisão preventiva de Wagner e dos outros dois alvos da operação, mas o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) negou os pedidos.
Os investigadores se basearam em informações prestadas por delatores da Odebrecht e em materiais colhidos em outras operações de busca e apreensão, na sede da OAS, além de um estudo que apontou superfaturamento na obra.
NA CASA DA MÃE DE WAGNER, R$ 500 MIL
De acordo com a PF, Wagner se beneficiou do superfaturamento das obras na Fonte Nova ao receber doações para campanha de 2014 e vantagens indevidas. Os investigadores não detalharam como os R$ 82 milhões foram direcionados ao ex-governador, mas citaram que os relógios eram propina repassada como presente a Wagner ou a indicados por ele. Segundo a PF, a investigação apontou ainda um pagamento de R$ 500 mil na casa da mãe de Jaques Wagner, no Rio.
— Existe a informação de que os doleiros em Salvador não teriam capacidade de entregar tal quantia, e, por isso, teria sido feito um pagamento no Rio de Janeiro. Os demais pagamentos foram feitos através desses intermediários (Dauster e Daltro), e a maior parte através de doação de campanha. Isso conforme as delações e outros elementos de provas que temos nos autos — afirmou o superintendente da PF na Bahia, Daniel Justo Madruga. A Polícia Federal informou ainda que R$ 3,5 milhões foram repassados a Wagner por meio de doação eleitoral oficial feita pela Cervejaria Itaipava. — A Itaipava é uma empresa parceira do grupo Odebrecht. Se há lavagem (de dinheiro nesse episódio), a gente ainda não tem comprovação — disse a delegada.
A PF sustenta que Marcelo Odebrecht teria condicionado seu apoio para campanha de 2014 à concessão de aditivos no contrato da Fonte Nova. Teria sido acertado, então, um aditivo no valor de R$ 90 milhões. Porém, Wagner teria rejeitado o pedido. Ainda segundo a PF, as empreiteiras e o ex-governador teriam acertado o pagamento de uma dívida de R$ 390 milhões da Companhia de Engenharia e Recursos Hídricos da Bahia (Cerb) com a Odebrecht.
Ontem, Jaques Wagner classificou as acusações da PF como “infundadas”. — Repilo a ideia de receber propina: nunca recebi nem nunca pedi propina. Eu não peço, não autorizo ninguém a pedir qualquer tipo de reciprocidade por obras feitas. E assim foi na questão da Fonte Nova, que infelizmente a PF está comprando uma versão de que houve superfaturamento. Há uma incompreensão da Polícia Federal, como houve do Tribunal de Contas do Estado, do que é uma PPP e do que é uma obra pública. No PPP, não existe a figura do superfaturamento, como se está insistindo em falar — afirmou Wagner.
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