quinta-feira, 17 de maio de 2018

Nas pesquisas, um cenário eleitoral confuso e inquietante: Editorial | Valor Econômico

As pesquisas eleitorais mostram grande indefinição e ratificam o cenário de imprevisibilidade geral. É ainda muito alto o percentual de indecisos e dos que declaram que votarão em branco ou nulo - mais de um terço dos entrevistados e, em alguns casos, dependendo dos candidatos apresentados na simulação, mais de 45% - segundo a pesquisa divulgada no dia 14 de maio pela CNT/MDA. Se comprada pelo seu valor de face, o cenário é muito preocupante.

O ponto de partida de uma avaliação realista é que 39,6% dos entrevistados se disseram indecisos na pesquisa espontânea, o que sugere desconhecimento dos candidatos e de suas propostas - mais que natural a esta altura, pois a campanha não começou - e indica com clareza que tudo ainda está por acontecer. Retrato do momento, a pesquisa da CNT se engata em várias anteriores para mostrar possíveis tendências do eleitorado, pelo menos no ponto inaugural da disputa. Há algumas constantes que formam um quadro de alta aversão aos políticos, de fuga à polarização entre PT e PSDB que marcou as seis últimas eleições presidenciais e de grande rejeição aos partidos tradicionais.

Há avenida ainda aberta para o aparecimento de surpresas no elenco dos pretendentes à Presidência, mas o tempo corre. Luciano Huck e Joaquim Barbosa flertaram com a candidatura, examinaram de perto o que lhes reservava pela frente e refugaram. Fechada a possibilidade de candidaturas-surpresa, com as convenções partidárias, até 6 de agosto, o eleitor terá de se haver com os atuais pré-candidatos, possivelmente em número menor do que os 20 que se apresentaram.

Na ausência do que se convencionou chamar de "outsiders", as pesquisas mostram que há ainda um viés contra os candidatos dos grandes partidos que dominam a cena política desde a redemocratização. Na ausência de Lula, que venceria todos no primeiro e no segundo turno - e ele é muito maior que o PT - lideram a pesquisa da CNT, pela ordem, Jair Bolsonaro, do minúsculo PSL, Marina Silva, do nanico Rede e Ciro Gomes, agora no PDT.

Na mesma pesquisa, que guarda certa continuidade de resultados com outras de fontes diversas, os candidatos do establishment político vão muito mal. Nas várias simulações em que aparece, o ex-ministro Henrique Meirelles tem como melhor resultado a preferência de 1,4%. Rodrigo Maia não chega a 1%. Geraldo Alckmin, que obtém 8,3% no cenário sem Lula (e metade disso no com Lula) está com o prestígio em baixa e a rejeição em alta.

Quando a campanha eleitoral se iniciar oficialmente, as preferências antissistema terão de se estreitar e se restringir aos candidatos tradicionais, isto é, veteranos em eleições. Os favoritos até agora, somados, têm um tempo ínfimo de televisão, o que é muito desvantajoso para Bolsonaro e Marina, que têm dificuldades ou desinteresse em ampliar seu espaço na TV por meio de coligações. Ciro Gomes pode desmontar essa armadilha com o PDT, que tem capilaridade e ambiguidades programáticas suficientes para aumentar o número de legendas aliadas.

Quanto ao compromisso com as reformas de que o país necessita com urgência, só o tucano Geraldo Alckmin, entre os primeiros quatro em quase todas as pesquisas, tem um compromisso com elas declarado em público. E por enquanto a campanha do ex-governador teima em não decolar, o que ele acredita ser algo passageiro. A julgar pela eleição de 2014, Marina não é avessa a reformas, mas não se sabe do grau de urgência e da amplitude das medidas que tomaria para estancar o déficit da Previdência Social, um problema incontornável. De Jair Bolsonaro não saem definições claras na maioria dos assuntos, exceto dos que tratam de segurança pública, sua maior, e os críticos acham que única, plataforma eleitoral.

Preliminarmente, esses candidatos, com a exceção de Alckmin, indicam que se livrarão do teto de gastos, instituído para durar pelo menos 10 anos, e não se conhece o que colocariam no lugar para atacar a grave crise fiscal. E, no caso dos dois primeiros da consulta da CNT, Bolsonaro e Marina, suas forças no Congresso, mesmo após a eleição, seriam tão pequenas que o controle do Congresso, que não mudará de cara na próxima legislatura, poderia se tornar um problema inaugural, se não permanente.

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